O que é preciso para o open health decolar na Saúde brasileira?

Regulamentação, tecnologia padronizada e uma cultura de interoperabilidade estão entre os principais desafios do livre compartilhamento de dados. Mas uma coisa é certa: a Saúde vai mudar

O que é preciso para o open health decolar na Saúde brasileira?

O movimento “open” segue crescendo e se expandindo para diferentes setores, como por exemplo, na área de TI e mais recentemente, com maior destaque, no mercado financeiro através do "open banking" e o "open finance". Já na Saúde chegou a vez é do "open health", um projeto criado para que seja possível o livre compartilhamento de dados no setor entre os prestadores de serviços, sejam eles operadoras, hospitais, centros diagnósticos e outras instituições. Mas a grande pergunta que todos se fazem é: afinal, essa filosofia vai mesmo trazer mais acesso para a população? 

Para Vitor Ferreira, CIO do Hospital Moinho de Ventos (RS) e presidente da Associação Brasileira CIO Saúde (ABCIS), o open health é mais do que apenas um projeto, “Trata-se de uma adequação contemporânea à dinâmica atual dos negócios e dos serviços, para que a nossa vida aconteça com as ferramentas digitais que já existem. No caso da Saúde, a discussão deve ser sobre como fazer isso de forma assertiva nesse setor”, diz. 

O open health é também uma das alavancas mais promissoras para chegar a uma Saúde mais sustentável do ponto de vista econômico. Só que, para funcionar como promete, é preciso que haja um investimento mais robusto em tecnologia, como lembra Marcelo Maylinch, CIO da Dasa: “O último relatório da FGV sobre tecnologia para hospitais privados, que analisa a relação entre budget de TI sobre a receita, aponta para uma média de 6,5% sobre o faturamento das instituições; enquanto esse número na área financeira fica em 12% e chega até a 18%. Portanto, a modernização da tecnologia é fundamental para o open health funcionar.”  

“A cultura digital precisa andar junto com o open health para que tudo funcione. E isso vale tanto para o profissional da Saúde, quanto para o paciente que deve tomar ciência da importância dos seus dados”, Marcelo Maylinch, CIO da Dasa 

Embora o open health tenha sido acelerado no contexto da Saúde Digital, a verdade é que o tema não é novo na Saúde: “Quando nos referimos ao open health estamos falando muito sobre uma jornada do paciente ”, resume Ferreira.  

Com isso, Vitor Ferreira diz, ainda estamos em processo de construção da jornada do open health: “Nós já tivemos experiências anteriores, como o  prontuário open e o Health Level Seven (HL7), só que ainda não conseguimos chegar no estágio final de nenhuma dessas discussões porque não conseguimos vencer as barreiras das soluções já construídas.”   

“O grande desafio do open health no Brasil é conseguir vencer o status quo estabelecido, com as soluções tecnológicas já existentes abrindo a porta para essa discussão para que seja possível a adoção de padrões inerentes ao trabalho de uma plataforma aberta”,Vitor Ferreira, presidente da Associação Brasileira CIO Saúde (ABCIS)

E a interoperabilidade? 

A primeira coisa que precisa estar clara é que não existe um movimento “open” sem interoperar os dados. E com a Saúde isso não é diferente, embora seja ainda mais complexo de ser feito do que em outras áreas. “Os dados na gestão da Saúde ainda são menosprezados em sua complexidade, enquanto, na verdade, a dificuldade em operar com eles é muito maior do que em outros segmentos”, afirma Ferreira.  

Para o CIO, avanços na cultura das empresas e na gestão dos dados podem oferecer ao usuário o poder de escolha que o movimento “open” prega.  

Em complemento, Maylinch lembra, ainda, que antigos desafios no universo da TI tornam-se mais complexos quando o assunto é o exercício do compartilhamento de dados. “No open health, o impacto de uma vulnerabilidade na cibersegurança da rede, por exemplo, é ainda maior. Por isso, temos que educar e capacitar a todos pelo bom uso da tecnologia.” *Conteúdo apurado no HIS 2022.  

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