Depois da telemedicina, o phygital

É tempo de aproveitar a oportunidade e implantar uma nova Saúde, que integra o digital ao mundo físico, de uma maneira mais estruturada e com melhor planejamento de seus processos

Depois da telemedicina, o phygital

Foram necessários anos de debate e uma pandemia para a telemedicina ir, enfim, regulamentada no Brasil — ainda que em caráter emergencial. A consequência desse pontapé é o ganho de consistência do phygital, um conceito que representa a união dos mundos físico e virtual que deve se tornar uma realidade cada vez mais comum no setor de saúde.

“O paciente, por exemplo, ainda não sabe claramente tudo o que pode consumir por meio da saúde digital e penso que as todas as organizações que compõem o sistema de saúde devem ser responsáveis por ajudá-lo a entrar nesse novo mundo, deixando claras as vantagens e possibilidades", defende a médica Martha Oliveira, fundadora e CEO da consultoria Designing Saúde e da Laços Saúde, além de ex-diretora-executiva da Associação Nacional de Hospitais Privados (Anahp) e da Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS).

 

Capacitar para o digital 

O conhecimento do paciente sobre as possibilidades de digitalização dos processos, claro, tende a aumentar a demanda por atendimentos remotos complementares aos presenciais — exatamente o que o phygital preconiza. Mas para ajudar a construção desse novo cenário de saúde digital é preciso, antes de tudo, que gestores e criadores de inovações também desempenhem um papel introdutório dessas tecnologias para quem vai de fato utilizá-la, seja o paciente ou o profissional de saúde.   

É que a promessa de dar maior fluidez na relação entre a organização e o paciente/beneficiário passa necessariamente pelo processo de aprendizado para o bom uso do digital, algo que ainda não acontece, como Martha deixa claro.

“A telemedicina se consolidou nos últimos dois anos como mais um meio de contato entre médicos e pacientes, mas o profissional de Saúde desconhece toda a capacidade da ferramenta e ainda não sabe exatamente como deve ser feita uma teleconsulta de qualidade, já que há maneiras certas de se portar frente à câmera para ser melhor compreendido do outro lado.” E o mesmo acontece com os pacientes que ainda não sabem o que esperar desse tipo de atendimento.  

Martha lembra ainda que, justamente devido à pressa diante da pandemia, não houve uma correta capacitação e treinamento na técnica da telemedicina. Agora, com o phygital impactando diretamente na agilidade da assistência e do atendimento, é hora de resolver essa falta de conhecimento. 

“A pandemia mostrou que as organizações de saúde precisam estar aptas a desenvolver rapidamente seus processos. E, para isso, precisam usar a tecnologia e a inovação de forma cada vez mais rápida.” Martha Oliveira, fundadora e CEO da consultoria Designing Saúde e da Laços Saúde.

 

O futuro é phygital

Uma vez capacitados para o bom uso do digital, muitas inovações podem surgir a partir do aumento do uso da ferramenta da telemedicina para a assistência. Entre elas, Martha cita a medicina preditiva via inteligência artificial e de biossensores, que estarão o tempo todo captando informações dos pacientes:

“Há ainda a possibilidade de uso de sensores na residência do paciente, para reunir ainda mais dados sobre seus hábitos, e uma importante área de genética e medicina personalizada que estará mais aferida a partir da análise de todos essas informações reunidas”, completa.  

Sem falar na robotização, que permitirá que haja auxiliares pessoais também personalizados para acompanhar e socorrer pacientes crônicos e aqueles que necessitem de cuidados especiais. Só que para tudo isso dar resultado e fazer sentido é preciso investir mais na integração dos dados, que ainda permanecem compartimentalizados.

“A gestão em saúde precisa investir em integração para que, a partir de uma análise de big data, seja possível fazer predições cada vez mais assertivas. A partir de agora, os gestores precisam estar mais atentos e ávidos por utilizar todo o potencial da tecnologia”, acredita Martha.  

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