Saúde digital e medicina 4P como estratégias para organizações de Saúde

Tecnologias disruptivas são fundamentais para alcançar a sustentabilidade, mas mudança de mentalidade também é essencial para uma Saúde mais preventiva e menos focada na doença

Saúde digital e medicina 4P como estratégias para organizações de Saúde

O futuro do setor passa pela construção de uma Saúde Digital que considere as mudanças populacionais. Estudos indicam que, em 2050, a expectativa de vida nos países em desenvolvimento, como o Brasil, será de 82 anos para homens e 86 para mulheres. Com mais idosos, a incidência de doenças crônicas aumenta. Assim, o sistema de Saúde do amanhã deve assumir o papel de ajudar os indivíduos a manter a qualidade de vida, e não somente tratar doenças quando elas já estão estabelecidas, como no modelo atual. 

A busca por uma transformação digital da saúde passa pela medicina 4P, amplamente discutida na Europa e nos Estados Unidos há pelo menos uma década, mas que começa agora a chegar ao Brasil. O conceito se baseia em quatro pilares: 

  • Prevenção: A busca por mais qualidade de vida traz a necessidade de ações de medicina preventiva que incluam não somente consultas e exames de rotina, mas o engajamento e educação para que o paciente atue junto ao médico na busca de hábitos de vida mais saudáveis. Ferramentas de monitoramento, como os dispositivos vestíveis e aplicativos de Saúde, coletam dados que auxiliam na prevenção e no monitoramento das funções vitais dos pacientes. 
  • Predição: A medicina diagnóstica é fundamental para o diagnóstico de inúmeras doenças. Aliada ao avanço dos estudos em medicina molecular, ela tem potencial para detalhar a probabilidade de o paciente desenvolver algum tipo de problema no futuro, estimulando ações preventivas antes mesmo de o quadro clínico se instalar. 
  • Participação: A humanização na relação entre médico e paciente também é uma característica da medicina 4P. O entendimento do modo de vida é importante para um diagnóstico eficiente e um tratamento eficaz, além de estimular a participação ativa do indivíduo no cuidado com sua própria saúde. 
  • Personalização: Cada paciente deve ter seu tratamento individualizado, considerando seus anseios e seu modo de vida, bem como o seu histórico de saúde. Ferramentas como o Prontuário Eletrônico do Paciente (PEP) são cruciais para esse fator, já que reúnem informações preciosas para a tomada de decisão do médico.

Nos Estados Unidos, o Instituto de Medicina 4P é uma organização sem fins lucrativos, criada no começo da década visando se tornar um local de referência em pesquisa no tema e mostrar a relevância para o setor. Operadoras de Saúde norte-americanas conduzem experiências sobre o modelo, a fim de encontrar uma forma de estimular a qualidade de vida e a redução dos custos assistenciais no país. 

 

Tecnologia

Algumas inovações características da Saúde Digital são essenciais para a construção de modelos de medicina 4p. Para Wagner Sanchez, doutor em engenharia biomédica e coordenador do MBA em Health Tech da Faculdade de Informática e Administração Paulista (Fiap), tecnologias disruptivas são as principais responsáveis por mudar como as instituições entendem a saúde.

"Essas inovações digitais estão mudando radicalmente o formato das empresas, as funções dos profissionais e a forma como as pessoas se relacionam, estudam, trabalham, compram, se alimentam e também cuidam da saúde. O setor é impactado por essas mudanças, seja no diagnóstico, previsão ou tratamento de doenças, seja na mudança de hábitos, no uso de dispositivos vestíveis inteligentes e até na digitalização dos modelos de negócios, impulsionando, assim, amedicina 4P." 

Para ele, os modelos de negócio atuais não são mais sustentáveis e precisam se reinventar completamente para que possam sobreviver em meio à transformação digital.

"Para a implementação de uma medicina preditiva, preventiva, participativa e personalizada é necessária a fusão entre saúde e tecnologia, que é alcançada com ferramentas como Inteligência Artificial (IA), big data, Internet das Coisas (Internet of Things - IoT), prototipação 3D, wearables, nanotecnologia, biohacking, blockchain, entre outras que estão se fundindo e criando oportunidades nunca antes pensadas."

Os maiores desafios para a implantação estão no alto investimento, na imaturidade da gestão das organizações e, principalmente, na mudança de mentalidade dos colaboradores, que precisam entender que o futuro da Saúde Digital depende dessas mudanças.

 

PEP

Sanchez destaca que o PEP é um dos principais elos da medicina 4P. Ele explica que um prontuário mais preditivo, colaborativo, personalizado e seguro, atrelado a uma Saúde 4.0, incrementada pelas tecnologias emergentes, traz dois principais impactos para a saúde:

  • A gestão se tornará mais eficiente, cruzando informações e empregando novas tecnologias com assertividade e foco no indivíduo. 
  • O ser humano viverá mais, com mais qualidade de vida, utilizando órgãos artificiais, próteses e wearables, com mais controle sobre sua saúde e sofrendo menos efeitos por conta do trabalho, da alimentação e do estilo de vida.

 

Preparação

A Saúde Digital é o caminho, mas os hospitais necessitam estar preparados para as ferramentas disruptivas que devem aparecer nos próximos anos. Para o professor, não existe mudança de um dia para o outro.

"O que devemos implementar é uma onda de transformação digital e principalmente mudança de mindset. Esse processo deve ir inundando os departamentos desde a mais alta gestão para os demais, contaminando positivamente os colaboradores, eliminando os 'glóbulos brancos corporativos', que logo se rebelam contra objetos estranhos dentro do corpo." 

A organização deve elaborar um planejamento para alcançar a transformação digital da saúde, identificando seu impacto, estabelecendo cronogramas, capacitando pessoas, prevendo investimentos, colhendo resultados e aprendendo com os erros. É uma grande jornada que precisa ser iniciada imediatamente, pois quanto mais se esperar, mais árduo será o processo.

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