Saúde do idoso: como a saúde pública deve se preparar para o futuro?
Há tempos varrida para debaixo do tapete, a discriminação do idoso não pode mais deixar de figurar entre os principais entraves sociais do país.

A situação deve ser combatida por ministros, secretários da saúde e especialistas em políticas públicas por uma razão simples, o aumento gradual desse perfil populacional está prestes a colocar muitos governos em xeque. Afinal de contas, é melhor evitar que remediar um colapso social, não acha?
Ainda em 2013, os idosos já representavam 13% da população brasileira, totalizando mais de 26 milhões de pessoas. A expectativa é que o número de brasileiros na melhor idade praticamente triplique até 2050! Mas, será que esse envelhecimento da população brasileira vem sendo acompanhado por melhorias na infraestrutura de amparo ao idoso?
Segundo o Conselho Federal de Medicina (CFM), existem apenas mil geriatras em atividade no país inteiro, representando uma proporção de 26 mil pessoas acima de 60 anos para cada médico da especialidade. Já quando o assunto é gerontologia (pesquisa do processo de envelhecimento da população), a situação é ainda mais complicada: hoje, existem em torno de 300 profissionais na área por aqui, o que representa quase 90 mil idosos para cada profissional.
Trouxemos algumas ações emergenciais que devem ser implementadas em estados e municípios, abrindo assim a porta de entrada para uma mudança radical na forma de enxergar a saúde do idoso.
A ausência de profissionais
Como se não bastasse o susto que os dados apresentados deram na introdução, ainda é importante lembrar que a maioria dos (já poucos) especialistas em geriatria e gerontologia do Brasil estão em São Paulo. Pense bem, você acha que estados como Acre e Rondônia vêm sendo bem atendidos nessas áreas?
Porém, essa ausência de profissionais qualificados não é exclusividade do Brasil. No México, por exemplo, existem apenas 400 geriatras no país inteiro para dar conta de cerca de 10 milhões de cidadãos.
Relembrando que, enquanto a geriatria lida com o tratamento de enfermidades específicas dos idosos, decorrentes de doenças crônicas, a gerontologia está ligada ao estudo e à execução de iniciativas relacionadas ao envelhecimento humano, focada na prevenção dos agravos e na elaboração de pesquisas para melhorar a qualidade de vida dessa faixa etária. São, assim, áreas-chave para mudar a forma com que os municípios enxergam sua população.
Algumas soluções possíveis
Agora vamos abordar algumas das possíveis soluções para combater o déficit de vagas no setor. Veja só:
1. Criação de faculdades focadas em cursos de Medicina
Já parou para pensar que, se há poucos profissionais disponíveis, pode ser porque as faculdades não os formam em quantidade suficiente para suportar a demanda? A verdade é que a infraestrutura de saúde pública precisa dar suporte ao desenvolvimento dos cursos. Assim, essa ação deve ser planejada com a Secretaria de Educação e a área de planejamento.
A cidade de Franca, no interior paulista, por exemplo, resolveu essa questão com a criação de um centro universitário municipal com foco na oferta de cursos de Medicina. Tal iniciativa formará novos estudantes da própria cidade, além de atrair talentos das mais diversas regiões do país — benefício que pode ser potencializado caso o município ou o estado tenha recursos orçamentários para ampliar a oferta de vagas em concursos públicos voltados à área médica.
2. Investimento em cursos técnicos de gerontologia
Os entes federativos com poucos recursos, sem estrutura orçamentária suficiente para investir na criação de centros de ensino superior direcionados à saúde, podem aplicar verbas na criação de escolas de nível técnico na área de gerontologia. A formação no médio prazo de diversos novos profissionais ajudará a combater o déficit enfrentado pelos hospitais municipais, pelas Unidades Básicas de Saúde (UBS) e pelos Programas de Saúde da Família (PSFs).
Outra solução municipal (ainda mais simples) envolveria firmar termos de cooperação ou convênios com o estado para criar Escolas Técnicas Estaduais (ETEs) na área territorial da cidade. Mais uma vez, o lema de ordem deve ser ação conjunta.
3. Oferta de treinamentos específicos aos médicos da rede
Por mais que a abordagem ao idoso nos serviços de saúde precise diferir, os profissionais da saúde chegam ao mercado sem formação específica para lidar com tal perfil. Na faculdade de Medicina, por exemplo, ao mesmo tempo, em que não há disciplinas de odontogeriatria, há muitas outras ligadas à saúde bucal infantil. O resultado dessa segregação é que a população idosa padece de médicos capacitados, capazes de realmente compreender suas necessidades.
Para preencher essa lacuna deixada pela formação universitária padrão, a secretaria municipal pode firmar parcerias com instituições de nível superior para providenciar a oferta de cursos de aperfeiçoamento aos médicos da própria rede, abordando temas ligados à saúde do idoso.
4. Priorização máxima da atenção básica
Já faz tempo que a comunidade científica entendeu que tanto a saúde plena como a fragilidade física de qualquer indivíduo não podem ser estudadas isoladamente, limitando-se pelos órgãos ou sistemas afetados. Afinal, o ser humano precisa ser visto como um conjunto sistêmico de reações e estímulos interdependentes, cuja harmonia engloba qualidade de vida, inserção social, autoestima, prática de atividades físicas e, claro, medicina preventiva.
Também faz tempo que a atenção de primeiro nível em países europeus, envolvendo visitas e acompanhamento domiciliar (sobretudo a idosos) tem sido apontada como o principal fator de queda nos custos com internações e na melhoria da avaliação da população em relação à prestação de serviços públicos.
É necessário providenciar um mapeamento geográfico completo. Depois, equipes descentralizadas de multiespecializadas devem ser formadas para acompanhar de perto a população idosa da região. O foco se volta, assim, aos cuidados necessários para não ser preciso sequer dar entrada em qualquer instituição da rede. É o conceito de saúde integral colocado em prática.
5. Uso das soluções tecnológicas na área de saúde
Digitalização de registros e disponibilização em nuvem, telemedicina e Big Data para previsão de aumento da demanda: são muitas as possibilidades que a TI em saúde oferece para permitir a redução da necessidade de mão de obra administrativa e assim aumentar os recursos disponíveis para investimentos em profissionais diretamente ligados ao atendimento à saúde do idoso. Aliás, a informatização é primordial para melhorar a produtividade e a qualidade dos cuidados à saúde de forma geral.
- PEP: com o Prontuário Eletrônico do Paciente (PEP), todo o histórico dos usuários do serviço ficará registrado eletronicamente, dando aos profissionais uma visão integral do estado de saúde do cidadão e reduzindo as chances de erros;
- Big Data: essas soluções podem prever aumentos de demanda na rede, bem como possíveis explosões epidêmicas que exijam medidas preventivas;
- Softwares de atenção primária: dão maior agilidade e eficiência aos agentes comunitários de saúde, permitindo mobilidade e acesso rápido às fichas de acompanhamento, além da criação de mapas de visitas, do rastreamento dos agentes e diversos outros benefícios.