Prems e Proms: o que são e por que integrá-los ao prontuário eletrônico

PREMs e PROMs são fundamentais para qualificar a experiência do paciente na assistência e resultados, além de auxiliar o gestor a identificar pontos de melhoria no hospital.

Prems e Proms: o que são e por que integrá-los ao prontuário eletrônico

A transformação digital da saúde tem levado instituições a repensarem seus modelos de avaliação da qualidade assistencial. 

Nesse contexto, dois indicadores vêm auxiliando a construir mais valor na saúde: os PREMs (Patient Reported Experience Measures) e os PROMs (Patient Reported Outcome Measures). Ambos são ferramentas fundamentais para captar a perspectiva do paciente e promover uma saúde verdadeiramente centrada no indivíduo.

Os PREMs avaliam a experiência do paciente durante o atendimento, como por exemplo, o acolhimento, a comunicação da equipe médica ou o tempo de espera. Já os PROMs medem os resultados clínicos percebidos pelo próprio paciente, como a melhoria da dor, da mobilidade ou da qualidade de vida após um procedimento ou tratamento.

Essas informações, quando integradas ao prontuário eletrônico, ajudam profissionais e gestores a tomarem decisões mais embasadas, promovem uma gestão mais eficiente e possibilitam um cuidado mais humano, personalizado e baseado em valor

Neste artigo, você vai entender por que PREMs e PROMs são tão importantes para o futuro da saúde e como incorporá-los na prática clínica digital.

 

PREMs e PROMs como mecanismos de medição de assistência baseada na qualidade

Historicamente, a qualidade na saúde era avaliada por métricas operacionais: número de atendimentos, taxa de ocupação, duração da internação. Embora relevantes, essas medidas dizem pouco sobre a efetividade do cuidado do ponto de vista do paciente.

Para Carlos Sverdloff, especialista em gestão e valor na saúde e professor da Fundação Getúlio Vargas (FGV), a questão dos PREMs se complica na hora da mensuração dos dados coletados.

“Os dados já são coletados há algum tempo. O que significa um hospital ter uma pontuação de 75 em experiência do paciente? Nada, se não houver uma comparação com outras instituições e um acompanhamento da série histórica desse número.” 

É nesse cenário que a integração desses indicadores ganha protagonismo. Eles são considerados mecanismos essenciais para mensurar a assistência baseada na qualidade, pois:

 

  • Avaliam dimensões subjetivas e relevantes do cuidado, como dor, bem-estar e satisfação;

  • Dão voz ativa ao paciente no processo de avaliação;

  • Permitem comparações entre serviços, instituições e profissionais;

  • Alimentam modelos de remuneração por valor, que já começam a substituir os antigos modelos baseados em volume.

Com os PROMs, por exemplo, é possível saber se um paciente com artrose voltou a andar normalmente após uma cirurgia. Com os PREMs, entende-se se esse paciente se sentiu respeitado, acolhido e bem-informado ao longo do tratamento.

Esses dados enriquecem a compreensão do cuidado além dos números clínicos tradicionais, apontando resultados que realmente importam para quem está sendo cuidado.

 

Como são feitas as medições de satisfação hospitalar?

A coleta de dados dos PREMs e PROMs pode ocorrer de diversas formas, mas todas têm em comum a autodeclaração do paciente como fonte primária. Isso significa que os dados não são extraídos apenas de exames ou registros clínicos, e sim do próprio relato do paciente.

 

Principais métodos de coleta:

 

  • Questionários padronizados aplicados digitalmente (via app, SMS, e-mail ou portal do paciente);

  • Formulários físicos preenchidos durante a internação ou na alta;

  • Entrevistas telefônicas após o atendimento;

  • Totens interativos nas unidades de saúde;

  • Ferramentas integradas ao prontuário eletrônico, com campos automatizados para preenchimento no momento oportuno.

 

Para os PROMs, instrumentos já validados internacionalmente como o EQ-5D, SF-36 ou escalas de dor e função específicas por condição (como o Oxford Hip Score, para prótese de quadril) são amplamente utilizados. Já os PREMs costumam ser construídos com base em indicadores de experiência, como:

 

  • Clareza nas informações recebidas;

  • Tempo de espera;

  • Cordialidade da equipe;

  • Participação nas decisões sobre o tratamento;

  • Sensação de segurança durante a internação.

A automação dessas medições dentro do prontuário eletrônico facilita o acompanhamento longitudinal dos dados e permite análises mais profundas sobre os padrões de atendimento e seus resultados reais.

"Ainda existem poucas iniciativas que mensuram desfechos do paciente, não aqueles clínicos, mas os de qualidade de vida. Se tem muitos dados sensíveis e poucos em qualidade de vida. A tecnologia entra nessa parte, ela pode mensurar isso fora do papel e cruzar dados", complementa Sverdloff. 

Seus impactos na gestão e assistência

A integração dos PREMs e PROMs à rotina assistencial e à base de dados do prontuário eletrônico traz diversos benefícios práticos. Eles impactam positivamente tanto a gestão institucional, quanto a qualidade da assistência prestada:

 

1. Tomada de decisão mais estratégica

Com dados sobre satisfação e desfechos relatados pelo paciente, gestores conseguem identificar pontos críticos e oportunidades de melhoria. Por exemplo, uma queda nos índices de PROMs em pacientes pós-operatórios pode indicar falhas na reabilitação ou necessidade de protocolos clínicos mais robustos.

 

2. Avaliação da performance profissional e institucional

Instituições podem comparar unidades, serviços e até equipes médicas com base em feedbacks reais dos pacientes. Isso incentiva a melhoria contínua e a busca por excelência.

 

3. Engajamento do paciente no tratamento

Pacientes que percebem que sua opinião é levada em conta tendem a se engajar mais com o cuidado, aumentar a adesão ao tratamento e manter um relacionamento mais próximo com os profissionais.

 

4. Adoção de modelos de pagamento por valor

Os PREMs e PROMs são fundamentais para que operadoras, hospitais e governos adotem modelos de remuneração baseados em valor, nos quais o foco deixa de ser o volume de atendimentos e passa a ser os resultados concretos para o paciente.

 

5. Melhora da reputação institucional

Boas notas de experiência e resultado costumam refletir diretamente na imagem da instituição perante o público, aumentando a confiança e a fidelização de pacientes.

 

Desafios para sua integração

Apesar dos benefícios, ainda existem barreiras importantes para a adoção e integração efetiva dos PREMs e PROMs ao prontuário eletrônico. Para o especialista, o grande desafio é completar a integração.

"Algumas plataformas digitais ainda não têm os dados de Proms, que são coletados pós-tratamento, a partir de um acompanhamento mais apurado do paciente. O ideal seria que o hospital tivesse uma parte do prontuário eletrônico para mensurar Proms." 

Outros desafios são:

 

Falta de padronização

Embora existam questionários validados, ainda há grande variação na forma como cada instituição aplica e interpreta os dados, dificultando comparações e benchmarking.

 

Dificuldade técnica na integração

Muitos sistemas de prontuário eletrônico não foram originalmente desenhados para incluir campos subjetivos, como PREMs e PROMs. A adaptação exige desenvolvimento técnico e integração com sistemas externos (como plataformas de coleta de pesquisa ou apps de paciente).

 

Capacitação de equipes

Médicos, enfermeiros e profissionais de apoio precisam entender a importância dessas métricas e se engajar na sua aplicação, o que exige treinamento e mudança cultural.

 

Resistência do paciente

Alguns pacientes ainda têm dificuldade em preencher formulários digitais ou desconfiam da utilidade da pesquisa. Estratégias de sensibilização e usabilidade simples são essenciais.

 

Análise e uso dos dados

Coletar dados é apenas o começo. O verdadeiro desafio está em transformar essa informação em insights acionáveis, integrando-os aos dashboards da gestão clínica e institucional.

Mas a construção do valor na saúde depende, ainda, de uma mudança cultural entre as organizações do setor: a prática da comparação de resultados entre instituições.

"Esse é o processo de benchmarking na saúde. Pode se tornar injusto, porque compara pacientes com doenças parecidas, mas pessoas diferentes. Nesse caso é preciso fazer o ajuste de risco, o que só ocorre quando analisada uma grande quantidade de resultados, ou seja, um alto número de pacientes."

 

Conclusão

A saúde do futuro exige mais do que eficiência operacional: ela precisa colocar o paciente no centro de tudo. Os PREMs e PROMs são ferramentas poderosas para fazer essa virada, permitindo que a experiência e os resultados percebidos pelos próprios pacientes tenham o devido peso na avaliação da qualidade dos serviços.

Quando integrados ao prontuário eletrônico, esses dados ganham ainda mais valor, alimentando o histórico do paciente, fortalecendo a continuidade do cuidado e se tornando indicadores estratégicos de gestão e planejamento.

Apesar dos desafios, o caminho da saúde baseada em valor passa, inevitavelmente, por essas métricas. Instituições que desejam se destacar em um setor cada vez mais competitivo e orientado por resultados devem investir em sistemas que unam tecnologia, experiência e desfecho clínico com inteligência e propósito.

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