Como integrar dados de aplicativos ao prontuário do paciente

Ampliar as informações disponíveis sobre o indivíduo auxilia na promoção de programas de prevenção a doenças, além de otimizar a tomada de decisão dos profissionais de saúde

Como integrar dados de aplicativos ao prontuário do paciente

A transformação digital traz consigo uma nova maneira de enxergar o mundo. Processos operacionais, antes realizados de forma burocrática, tornam-se cada vez mais otimizados, enquanto a assistência ganha ferramentas que ampliam a segurança e satisfação do paciente. Com tablets, smartphones e o avanço generalizado da mobilidade na saúde, é urgente pensar em formas de integrar os dados coletados por aplicativos ao prontuário do paciente, de forma a garantir os resultados esperados com a adoção dessas tecnologias.

Com o advento da Internet das Coisas (Internet of Things - IoT), dispositivos conectados coletam sinais vitais e outras informações de saúde de indivíduos em tempo real, gerando uma grande massa de dados. Isso colabora para a continuidade do tratamento, já que o monitoramento dos sinais vitais do paciente pode ser feito remotamente, 24 horas por dia, sete dias por semana. Isso fornece ao profissional de saúde informações acuradas, que permitem o cuidado a distância e o monitoramento do estado de saúde do indivíduo em tempo real. Além disso, a tecnologia auxilia e orienta o paciente sobre ações simples, que devem ser feitas fora do ambiente hospitalar — como tomar a medicação no horário correto.

O exemplo mais comum é o smartphone, mas outros gadgets, como relógios inteligentes e até marca-passos com tecnologia wireless, já estão disponíveis no mercado. Agesandro Scarpioni, coordenador dos cursos de sistemas de informação e tecnologia em jogos digitais da Faculdade de Informática e Administração Paulista (FIAP) e mestre em engenharia biomédica, explica que essas ferramentas capturam diversos tipos de dados úteis para prevenção e tratamento.

"Esses dados podem ser capturados de forma automática, bastando portar o dispositivo, ou por meio de informações preenchidas pelo próprio usuário quando informa, por exemplo, seus hábitos alimentares em apps para controle de peso."

Há algum tempo se discute que toda essa gama de dados sensíveis coletados por dispositivos deve ser integrada a ferramentas como o Prontuário Eletrônico do Paciente (PEP). Assim, profissionais de Saúde ganham importante apoio na tomada de decisão sobre diagnósticos e tratamentos. Segundo o professor, para que essa integração ocorra, é preciso antes padronizar as bases de dados.

"Diagnósticos, datas de vacinas, medicação, internações, ou seja, hoje em dia ter uma infinidade de informações sobre a saúde de uma pessoa em muitos locais já é uma realidade, no entanto, a falta de padronização entre diversos sistemas e a inexistência de uma base de dados única capaz de armazenar todo esse universo de informações impossibilitam o fácil acesso a esses dados."

O especialista enumera duas estratégias para integrar os dados de aplicativos ao prontuário médico do paciente, considerando os sistemas atuais e tecnologias existentes:

"Uma das estratégias, e talvez a mais complexa para integrar aplicativos de coleta de dados aos prontuários eletrônicos, é que tais aplicativos poderiam gerar dados de histórico do usuário e essas informações poderiam ser transmitidas para tais prontuários. Outra possibilidade é que essas informações sejam disponibilizadas em uma outra estrutura de armazenamento, onde os prontuários eletrônicos fariam o uso dos dados coletados."

O futuro do setor pede essa integração. Hoje os dados são essenciais para otimizar a assistência e, conforme o tempo passa, essas informações sensíveis se tornam ainda mais fundamentais para a construção de um novo modelo de gestão na Saúde. Para Scarpioni, muitos benefícios podem ser obtidos por meio dessa integração.

"Esses dados podem servir para pesquisas na área de novos medicamentos e tratamentos, rápido acesso ao histórico clínico do paciente, disponibilidade de informação precisa, atualizada e completa, compartilhamento seguro entre profissionais de Saúde, suporte para a tomada de decisão e, com o uso de Business Intelligence (BI), é possível identificar padrões que ajudam na prevenção de doenças."

 

Ferramentas disponíveis

O PEP tende a ser mais atualizado e veloz a cada dia que passa. O denominador comum para uma base de dados que possibilitará a leitura universal fará com que o prontuário do paciente ganhe ainda mais importância na saúde. Com a nova Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD), o paciente tem o direito de levar essas informações para onde quiser. Essa mudança irá obrigar as instituições a adaptar seus sistemas para a captação e leitura universal de dados.

Para o especialista, uma possibilidade tecnológica para permitir essa integração é a utilização de blockchain.

"Com ele se pode armazenar e compartilhar dados de forma descentralizada. O blockchain, como o próprio nome diz, é uma estrutura de dados na qual as informações estão em blocos encadeados que registram transações em ordem cronológica. Além disso, a criptografia garante a segurança dos dados, conferindo grande potencial a essa tecnologia."

O professor comenta que a estrutura funciona como um livro contábil, é pública e descentralizada, ou seja, os dados não estão em um único local, mas sim copiados em uma rede de computadores na qual cada máquina os conhece.

"Se um computador for retirado da estrutura, esses dados continuam disponíveis, pois os outros possuem cópias dessas transações ou cadeia de registros. Portanto, trata-se de solução plausível para a integração entre aplicativos e o prontuário do paciente.”

 

Futuro

A integração de dados possibilita o avanço não só da IoT, mas de tecnologias como a inteligência artificial (IA), apontada pelo especialista como tendência para os próximos anos, em especial no diagnóstico e combate a doenças. Além da IA, a realidade aumentada e virtual também estarão mais presentes no setor, e a realidade mista dará suporte a diversos procedimentos. O uso massivo de Analytics para prevenção de patologias ou aplicado em uso gerencial com objetivo de apoiar decisões estratégicas, seja em hospitais ou governos, também é apontado pelo especialista como uma tendência.

Segundo Scarpioni, todas essas ferramentas, integradas ao prontuário eletrônico, vão possibilitar a construção de uma saúde baseada em valor — sustentável para as organizações e mais efetiva para a qualidade de vida dos indivíduos.

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