Monitoramento remoto e predição de riscos para pacientes crônicos: como aplicar na rede pública
Entenda os benefícios do monitoramento remoto para acompanhamento de pacientes crônicos, otimizando recursos e melhorando desfechos clínicos.

O cuidado de pacientes com doenças crônicas, portadores de condições como diabetes, hipertensão, DPOC e insuficiência cardíaca, exige um acompanhamento contínuo, além de intervenções precoces e uma gestão integrada do cuidado, o que nem sempre é viável em um sistema sobrecarregado como o SUS.
Nesse cenário, tecnologias de monitoramento remoto e predição de riscos vêm se consolidando como ferramentas estratégicas para otimizar recursos, personalizar o cuidado e melhorar os desfechos clínicos dos pacientes. Mas, afinal, como essas soluções podem ser aplicadas de forma efetiva na rede pública?
Neste artigo, vamos explorar como o monitoramento remoto e os algoritmos preditivos podem transformar o cuidado de pacientes crônicos na saúde pública, reduzindo internações, aumentando a resolutividade da atenção primária e promovendo um cuidado mais proativo e centrado no paciente.
O desafio da gestão de pacientes crônicos no SUS e em redes híbridas
Estima-se que mais de 70% dos gastos com saúde no Brasil estejam relacionados ao tratamento de doenças crônicas. No SUS, isso se traduz em filas, hospitalizações evitáveis e sobrecarga nos serviços de média e alta complexidade.
A maior parte desses pacientes depende exclusivamente do sistema público de saúde. Muitos vivem em áreas periféricas ou rurais, com acesso limitado a serviços de saúde, o que dificulta o acompanhamento contínuo e o manejo adequado de suas condições crônicas.
Além disso, a fragmentação do cuidado, a falta de interoperabilidade entre sistemas e a escassez de profissionais tornam ainda mais difícil promover uma atenção primária resolutiva, aquela capaz de monitorar, intervir e acompanhar os casos sem necessidade de encaminhamentos desnecessários.
Nesse contexto, a incorporação de soluções digitais — como o monitoramento remoto e a análise preditiva — representa não apenas uma inovação tecnológica, mas uma necessidade para garantir eficiência, acesso e qualidade na atenção às doenças crônicas.
O que é monitoramento remoto e como ele funciona na prática
O monitoramento remoto de pacientes (RPM, na sigla em inglês) envolve o uso de dispositivos conectados para coletar e transmitir dados de saúde em tempo real.
Essas informações podem incluir pressão arterial, frequência cardíaca, índices de glicemia, níveis de oxigenação no sangue, adesão ao tratamento e sintomas autorreferidos.
Esses dados são enviados, geralmente via internet ou aplicativos móveis, para plataformas que organizam, analisam e disponibilizam as informações para os profissionais de saúde, permitindo o acompanhamento contínuo do paciente sem necessidade de deslocamento até uma unidade de saúde.
Na prática, um paciente com hipertensão pode utilizar um monitor digital em casa para aferir a pressão diariamente. Seus dados são automaticamente enviados para uma central de monitoramento, onde profissionais da atenção primária analisam padrões e decidem se é necessário ajustar o tratamento ou convocar o paciente para uma consulta.
Para além dos dispositivos médicos, tecnologias como chatbots, aplicativos de rastreamento de sintomas e até ligações automatizadas também fazem parte de estratégias de monitoramento remoto.
Predição de riscos: como algoritmos podem antecipar agravamentos
Enquanto o monitoramento remoto coleta dados, os algoritmos de predição de risco entram em cena para analisá-los de forma inteligente. Utilizando big data, aprendizado de máquina e inteligência artificial, essas ferramentas são capazes de identificar padrões que indicam risco de descompensação clínica antes mesmo do surgimento de sintomas graves.
Por exemplo, um algoritmo pode identificar que um paciente com DPOC está apresentando um aumento sutil e constante na frequência respiratória, associado a relatos de cansaço e queda de oxigenação.
Mesmo que o paciente não tenha procurado atendimento, o sistema pode sinalizar um alerta para a equipe de saúde, que intervém precocemente e evita uma possível internação.
Essa capacidade de antecipar eventos adversos é o que torna a predição de riscos tão poderosa: ela transforma o cuidado para uma condição proativa, atuando antes que o problema se torne grave.
Os modelos preditivos podem ainda segmentar populações por nível de risco, priorizar atendimentos e orientar recursos limitados de forma mais eficaz, especialmente em contextos como a rede pública.
Benefícios da abordagem preditiva na atenção primária
Ao integrar o monitoramento remoto com ferramentas de predição, os serviços de atenção primária ganham uma nova potência assistencial. Entre os principais benefícios desta abordagem, destacam-se:
1. Redução de internações evitáveis
A detecção precoce de sinais de agravamento permite que os profissionais intervenham antes que a condição do paciente se deteriore, reduzindo a necessidade de hospitalizações.
2. Melhora nos desfechos clínicos
Com dados em tempo real e análise preditiva, o cuidado é ajustado com mais precisão, o que se traduz em melhor controle da doença e maior qualidade de vida para o paciente.
3. Aumento da resolutividade da atenção primária
Ao empoderar a equipe da atenção básica com dados e inteligência, torna-se possível resolver a maior parte das demandas sem recorrer à média e alta complexidade, desafogando o sistema.
4. Personalização do cuidado
A tecnologia permite desenhar planos de cuidado individualizados com base nas necessidades reais do paciente, considerando seu histórico, adesão ao tratamento e fatores sociais.
5. Otimização de recursos
Com uma visão clara dos pacientes em maior risco, é possível alocar os recursos humanos e tecnológicos de forma mais estratégica, promovendo eficiência na gestão da saúde populacional.
Como aplicar essas tecnologias no sistema público de saúde
Apesar dos desafios, já existem iniciativas bem-sucedidas de aplicação de monitoramento remoto e predição de riscos na rede pública e em redes híbridas. A chave está em desenvolver modelos escaláveis, de baixo custo e adaptados à realidade local.
Exemplos práticos:
- A Santa Casa de Misericórdia do Pará obteve grandes avanços na digitalização de seus processos e uso de tecnologias de ponta através de soluções da MV, como o Prontuário Eletrônico do Paciente.
- A Prefeitura de Capanema/PR deu um upgrade no seu fluxo de atendimento assistencial por meio do software SOUL MV Saúde Pública para a gestão de hospitais da rede pública e clínicas do Sistema Único de Saúde (SUS).
- A cidade de Votuporanga, pertencente a uma regional de Saúde formada por 17 municípios próximos a São José do Rio Preto, foi o primeiro município a adotar duas soluções da MV para integração dos dados na gestão da saúde pública: Global Health e o Personal Health.
Caminhos viáveis:
- Implantação de plataformas interoperáveis de prontuário eletrônico (PEP);
- Formação de equipes multidisciplinares para monitoramento e resposta;
- Parcerias com universidades, startups e organizações sociais;
- Uso de dispositivos simples (como oxímetros e esfigmomanômetros digitais) conectados via celular;
- Programas-piloto com financiamento estadual ou federal.
O papel da interoperabilidade e da infraestrutura digital
Para que o monitoramento remoto e a predição de riscos funcionem de forma integrada ao SUS, é essencial que haja interoperabilidade entre os sistemas, ou seja, que diferentes plataformas e bases de dados "conversem" entre si.
A ausência dessa integração é um dos grandes entraves atuais: muitas unidades de saúde ainda usam prontuários em papel ou sistemas fechados que não trocam informações com outras esferas (municipal, estadual, federal).
É necessário também investir em infraestrutura digital básica: internet nas unidades de saúde, dispositivos móveis para os profissionais, plataformas seguras de armazenamento de dados e treinamento para uso das tecnologias.
A consolidação de uma rede de saúde digital robusta e interoperável é um pré-requisito para que as ferramentas de predição de risco e monitoramento remoto realmente transformem o cuidado aos pacientes crônicos.
Desafios e oportunidades na adoção de soluções preditivas na rede pública
Embora o potencial seja enorme, ainda existem diversos desafios na implementação dessas tecnologias na rede pública:
Desafios:
- Falta de conectividade em áreas remotas;
- Resistência dos profissionais à mudança de processos;
- Escassez de financiamento e de equipes treinadas;
- Dificuldades com privacidade e segurança de dados;
- Ausência de políticas públicas claras para inovação digital na atenção primária.
Oportunidades:
- Redução de custos com hospitalizações;
- Parcerias público-privadas para financiamento de tecnologias;
- Incentivos à inovação por meio de políticas como a Estratégia de Saúde Digital para o Brasil (2020-2028);
- Ampliação da capacidade resolutiva da atenção primária;
- Uso de dados para planejar ações de saúde populacional com maior precisão
Com planejamento estratégico e investimento em capacitação, é possível superar os obstáculos e construir uma saúde pública mais inteligente, conectada e centrada no paciente.
O prontuário eletrônico como base para a predição de riscos na saúde pública
Para que o monitoramento remoto e a predição de riscos se tornem realidade no SUS, o primeiro passo é consolidar a digitalização da saúde, com foco no uso do prontuário eletrônico do paciente (PEP).
É o PEP que viabiliza o registro contínuo, padronizado e acessível das informações de saúde, possibilitando a análise longitudinal dos dados e a aplicação de modelos preditivos.
Sem um prontuário integrado, os dados ficam dispersos, inviabilizando tanto o monitoramento em tempo real quanto a construção de algoritmos de predição eficientes.
Portanto, investir em tecnologias preditivas é também investir em estrutura digital, integração de sistemas, capacitação de equipes e mudança cultural.
Somente assim será possível transformar o cuidado ao paciente crônico na rede pública, promovendo mais saúde com menos internações, mais resolutividade com menos custo, e mais humanidade com ajuda da tecnologia.
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