Por que a gestão em Saúde deve se preocupar com o risco populacional

Identificar possíveis doenças às quais a população assistida está exposta e trabalhar com métodos preventivos e apoio da tecnologia é caminho para promover sustentabilidade

Por que a gestão em Saúde deve se preocupar com o risco populacional

O conceito saúde populacional é aliado à gestão em Saúde focada na transformação do modelo de negócio. O método visa a inverter o padrão reativo — que aguarda o surgimento da doença — a um proativo — que mapeia as populações de risco e usa a tecnologia para fazer predições e previsões para evitar as enfermidades ou minimizar seus impactos. 

Ricardo Ramos, presidente da Aliança para a Saúde Populacional (Asap), explica que o conceito promove a sustentabilidade das carteiras de Saúde, considerando as diversas variáveis que envolvem a população assistida, mas sempre tendo como peça central e fundamental o usuário. Conforme o especialista, o primeiro passo para a gestão em Saúde adotar o modelo é entender o perfil da carteira e, a partir daí, promover ações da maneira mais assertiva possível, visando prestar a melhor assistência exatamente com os recursos necessários. 

Uma das etapas mais importantes da aplicação do conceito na gestão de Saúde é a avaliação do risco populacional. Quando há compreensão do perfil epidemiológico da carteira, as táticas e estratégias voltadas para a prevenção dos riscos se tornam mais assertivas.

“Por exemplo: uma população de aposentados está mais sujeita a determinadas doenças, por conta da faixa etária, que são diferentes daquelas às quais estão expostos os funcionários de uma startup, que tendem a ser mais jovens. A identificação dos riscos de cada população tem direta relação com os recursos que serão aportados para buscar a sustentabilidade da carteira”, explica o presidente da Asap. 

Segundo Ramos, organizações que não têm claro o risco ao qual a população assistida está exposta tendem a adotar medidas paliativas, em geral de curto prazo, para buscar a sustentabilidade do negócio. Elas criam estratégias como redução da cobertura do plano de saúde (sem contrapor os eventos obrigatórios da Agência Nacional de Saúde Suplementar — ANS) e inclusão de coparticipação e franquias, mas não atuam no cerne da questão: a medicina preventiva.

 

Complexidade 

O especialista comenta que mapear o risco da carteira de uma instituição é uma tarefa complexa, que depende de muitos fatores, especialmente dos canais de comunicação entre a organização e seus usuários.

“Quando falamos de uma população empresarial especificamente, há um canal de comunicação mais estreito porque essa pessoa vai para a empresa todos os dias e há uma oportunidade de contato”, destaca Ramos. 

Na Saúde Suplementar, em um cenário onde quase 75% dos beneficiários são cobertos por planos empresariais (dados de junho 2019 da Agência Nacional de Saúde Suplementar - ANS), o especialista da Asap acredita que a consulta de medicina ocupacional anual, obrigatória por lei, é desperdiçada pela gestão de Saúde.

“O que a gente vê hoje é que essa consulta anual não tem sido usada para fazer esse mapeamento de risco da população, seja individual, porque a consulta é individual, seja também depois, na compilação das informações para que os gestores tenham uma visão global do que está acontecendo e possam tomar as medidas necessárias”, destaca. 

O caminho indicado pelo especialista é que fazer questionários, coletar exames físicos (especialmente das medidas corporais do paciente) e analisar o  histórico pessoal e familiar, são informações que, inseridas no prontuário eletrônico que reúne o histórico do paciente, trazem um controle maior sobre o risco populacional ao qual ele está exposto. Com a ajuda de ferramentas inteligentes, é possível cruzar esses dados para entender melhor o comportamento populacional e agir na prevenção das doenças aos quais esse determinado público está exposto.

 

Dados de qualidade 

No contexto da Saúde Digital, Ramos destaca que a tecnologia também pode auxiliar a gestão em Saúde nos casos em que o canal de comunicação não é tão simples. Com um PEP interligado entre as unidades que compõem o sistema, por exemplo, é possível identificar facilmente os chamados eventos sentinela, como uma pessoa que frequenta regularmente o pronto-socorro com os mesmos sintomas, e agir proativamente. 

O papel da tecnologia na saúde populacional vai além do PEP. O especialista indica que ela deve ser usada como meio para a coleta, armazenamento e cruzamento de dados de qualidade, que potencializam as ações preventivas.

“A tecnologia deve estar presente desde o atendimento do paciente, na sua identificação, na redução de fraudes, na utilização da rede credenciada, passando por toda a parte de conectividade das informações, que tem que ser assertivas entre as redes prestadoras e os planos de saúde.” 

Com dados de qualidade devidamente trabalhados para a identificação dos riscos, é possível traçar as estratégias que vão, de fato, prevenir doenças, proporcionando qualidade de vida para a população assistida e sustentabilidade para as organizações.

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