3 estratégias para a gestão da operadora lidar com a alta no custo médico-hospitalar

Otimizar a eficiência dos gastos e renegociar contratos firmados com fornecedores estão entre as ações indicadas por especialista para evitar o disparo da inflação médica

3 estratégias para a gestão da operadora lidar com a alta no custo médico-hospitalar

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Há quase uma década, gestores de operadoras de Saúde observam algo curioso em seus balanços: ao mesmo tempo, onde o número de beneficiários diminui, o custo assistencial só aumenta. Acrescente ao cenário uma crise sanitária sem precedentes que exigiu — e ainda exige — muito de todo o sistema de saúde e chegamos rapidamente à conclusão que lidar com o aumento no
custo médico-hospitalar é uma preocupação urgente para a gestão da operadora.

Se durante 2020 o maior desafio foi manter o sistema em funcionamento diante da pandemia, a partir de 2021 a alta demanda por serviços de diagnóstico, cuidados médicos e tratamento da Covid-19 projeta um aumento de gastos que será sentido por todos: 68% das operadoras de saúde calculam mais sinistros devido à Covid-19 e, por isso, os custos médicos dos planos devem duplicar em 2021, segundo estimativa da consultoria Mercer Marsh Benefícios (MMB). E mesmo nos casos das instituições que não registrarem aumento de sinistralidade, outra situação é preocupante: por conta da pandemia, muitas pessoas continuam deixando de buscar tratamento ou, ainda, estão adiando cirurgias eletivas, o que pode fazer com que doenças simples se tornem problemas crônicos sem a assistência adequada. 

O maior impacto nos custos, portanto, será com as internações clínicas, até mesmo com as de média complexidade. Afinal, se antes o tempo de permanência no hospital era de cerca de dois a três dias, em pacientes com Covid-19 o prazo sobe para cinco a sete dias, e dificilmente ele deixa o hospital com menos de quatro dias. Portanto, é urgente encontrar formas de gerenciar o aumento dos custos sem impactar nem elevar as mensalidades dos beneficiários 

Para isso, vale a pena analisar o cenário atual. A começar pelos hospitais, os mais impactados. Em geral, um hospital privado opera com uma taxa de 75% de ocupação de seus leitos. E você deve se lembrar que nos momentos mais agudos da pandemia, a Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS) autorizou as operadoras de saúde a suspender e adiar as internações eletivas para reservar leitos para a Covid-19. Só que o futuro chegou:

“Todos aqueles que puderam aguardar pela cirurgia retornam em 2021 para realizar seu procedimento, mas a gestão da operadora ainda não sabe em quais condições isso acontecerá. Será que o quadro de saúde desses beneficiários evoluiu e ficou mais grave e, logo, mais oneroso?”, observa Thiago Pavin, mestre em economia da Saúde e sócio-fundador da Doxt e da Zetta Health Analitycs, duas startups especializadas em jornada do paciente e gestão de rede.  

Também é preciso deixar claro que, mesmo durante a pandemia, alguns serviços prestados pelas operadoras de saúde não diminuíram de frequência, entre eles partos e cirurgias obstétricas, além de sessões de quimioterapia e radioterapia. Já consultas e exames eletivos, bem como terapias simples, como a fisioterapia, tiveram uma baixa procura entre os meses de março e maio de 2020, mas voltaram a ser buscados pelos beneficiários a partir do segundo semestre.

“Em resumo, o grande problema nas contas é que, com a queda das cirurgias eletivas, os hospitais perderam receita”, revela Pavin, que complementa:

“Mas agora, diante da segunda onda da pandemia, as cirurgias eletivas estão liberadas [há algumas iniciativas regionais de suspensão, apenas, como em Manaus-AM] enquanto o quadro de Covid-19 se agrava, somando gastos ao sistema.”

É por isso que algumas operadoras de Saúde verticais devem melhorar a eficiência na gestão dos leitos para tratamento da Covid-19. A melhor maneira de fazer um cálculo confiável é acompanhando as estatísticas locais de infecção e avaliando as demandas de cada região.

“É prejudicial para a gestão da operadora vertical reservar leitos a mais do que o necessário, pois, além de aumentar o custo fixo com funcionários e materiais, há uma perda de receita nos hospitais que deixarão de realizar cirurgias eletivas”, explica Thiago Pavin, lembrando que o mesmo raciocínio vale para centros diagnósticos, por exemplo.

O contrário também não funciona, uma vez que, se a demanda for maior que a prevista, o gestor precisará se mobilizar às pressas, comprando materiais mais caros e tendo o custo aumentado.

 

Gastos futuros

A previsão para o primeiro trimestre de 2021 é de um aumento nas despesas hospitalares, sobretudo nas internações, porque consultas e exames eletivos, exceto o pronto-socorro, também voltaram a funcionar em patamares próximos ao que era antes da Covid-19. Mas é curioso observar que a chamada inflação médica, nome dado à variação dos custos médico-hospitalares (VCMH/IESS), diminuiu e foi de 12,5% para o período entre março de 2019 e março de 2020, enquanto no ano anterior (de março de 2018 até março de 2019) estava em 16,5%.  

“Em 2021 se não tivermos nenhum evento adverso, como um lockdown mais severo nos próximos meses, estamos caminhando para que a inflação médica volte a patamares iguais a 2019. O comportamento de consumo dos serviços das operadoras de saúde — exceto o pronto-socorro — já está muito parecido ao que era antes da pandemia. Mas, em termos de custos, os valores estão maiores, especialmente porque os insumos e até mesmo os fretes estão bem mais caros agora”, explica o especialista, que lista a seguir as principais estratégias para  a gestão da operadora lidar com a alta no custo médico-hospitalar.

 

1. Retomar as agendas de medicina preventiva e promoção de saúde 

Uma das grandes preocupações para o sistema de saúde no pós-pandemia é a diminuição da frequência na realização de exames preventivos de modo geral, mas especialmente aqueles relacionados ao câncer, como um simples papanicolau.

“Isso significa que está menor a chance de rastrear a doença antes que ela se agrave. Se permanecer assim, os beneficiários só vão procurar atendimento médico-hospitalar em estágio avançado do câncer, quando o tratamento será mais custoso e menos eficaz”, esclarece o especialista.

Outro ponto é que o isolamento social agravou a condição de saúde dos brasileiros e a consequência imediata é o aumento da obesidade e das doenças mentais, além da falta de atividade física e outros hábitos de promoção de saúde que precisam voltar à rotina quanto antes.

 

2. Renegociar valores e pacotes com prestadores de serviços 

As operadoras de Saúde precisam negociar com os principais prestadores de serviços para restabelecer valores de pacotes e de procedimentos a um novo patamar a partir de uma nova série histórica que se criou a partir da pandemia. As partes terão que conversar e ser mais austeras na busca de preços para que o custo médio não aumente muito.

“A partir da pandemia, foi preciso aceitar que o custo médio de uma internação subisse, mas esse não pode ser o patamar para as futuras negociações”, esclarece Pavin.

Essa ação só é possível se os gestores estiverem atentos aos números e acompanharem no detalhe as negociações:

“Quem não montou bem a série histórica de custos vai sair perdendo na gestão de agora em diante”, resume o especialista.

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3. Planejar novos modelos de remuneração e tecnologias 

Além de ações mais urgentes, como as anteriores, também é importante a gestão da operadora pensar em novos modelos de remuneração cada vez mais bem trabalhados, documentados e com indicadores bem estruturados, transparentes e pactuados entre operadora de Saúde e rede de prestadores de serviços. A tecnologia pode ajudar a fazer essa transição a partir do uso de sistemas de gestão integrados entre operadora e hospital, para que a gestão da operadora consiga acompanhar — em tempo real — a melhor a evolução dos serviços prestados ao beneficiário, autorizando antes cada procedimento e entendendo bem as causas pelas quais esse ou aquele tratamento estão sendo indicados pelo prestador.

“Porém, embora tudo isso seja muito importante, essa ação não vai ser rápida nem vai segurar o impacto da inflação médica para 2021-2022”, resume Pavin. 

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