Process mining: o que é e como a gestão hospitalar pode aplicá-lo
Estratégia usa ciência de dados para traçar um raio-X de todos os processos do hospital, apoiando a tomada de decisão em relação a melhorias assistenciais e de backoffice
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Você já ouviu falar em process mining? A mineração de dados é uma ferramenta recente no Brasil e consiste em usar a aprendizagem de máquina (machine learning) para a descoberta de processos baseados em dados. Na saúde, em especial na gestão hospitalar, permite desenhar com mais eficiência a jornada do paciente, obtendo, assim, insights que apoiam a tomada de decisão sobre melhorias tanto assistenciais quanto de backoffice.
Para entender o potencial do modelo, é preciso ter em mente que toda experiência ruim de um cliente acontece porque algum processo da empresa falhou. No caso de um hospital, essa afirmação também é verdade: se uma pessoa retorna várias vezes ao pronto-atendimento e não recebe o cuidado adequado, por exemplo, a jornada do paciente apresenta falhas.
“Para ajudar a gestão hospitalar a entender onde está o gargalo, o process mining usa dados do sistema de gestão hospitalar e outras tecnologias para realizar um mapeamento do processo, definindo, desenhando e descobrindo como ele ocorre na prática”, descreve Alex Meincheim, especialista em tecnologia aplicada na Saúde, ciências de computação, process mining e inteligência artificial, bem como CEO e cofundador da UpFlux.
Além de atuar nesse pilar da descoberta, que traça “um mapa do real estado da arte do processo e de suas falhas”, como descreve o especialista, o process mining também avalia o quanto o processo em questão está em conformidade com aquilo que foi preconizado.
“Esse comparativo entre o idealizado e o funcionamento prático é muito útil quando é preciso gerenciar uma linha de protocolos clínicos para o cuidado do paciente ou acompanhá-lo ao longo de sua trajetória no hospital. É trazer a ciência de dados para os processos e, assim, tudo o que antes era feito manualmente pode agora ser compreendido de forma automatizada”, enfatiza Meincheim.
Para extrair o máximo da avaliação da jornada do paciente com o process mining, o especialista indica que a gestão hospitalar adote primeiro o Prontuário Eletrônico do Paciente, o PEP. Mas, mesmo as instituições que ainda não possuem esse sistema e já digitalizaram seus fluxos financeiros podem usar a estratégia, pois o importante é ter dados para a mineração. Portanto, é possível adotar o modelo em hospitais de qualquer porte, garante o especialista.
“O process mining é uma espécie de raio-X de processos, pois traz informações preciosas para explicar o porquê de uma determinada dor acontecer ao longo de uma atividade”, exemplifica Meincheim.
Mas, sozinho, o modelo consegue apenas fazer uma varredura de todas as possibilidades de melhoria no hospital. Somente com a capacitação das pessoas para a análise dos processos é que a tomada de decisão acontecerá em forma de um ciclo de melhoria na gestão hospitalar, seja pela redução de custos ou pelo aumento de eficiência e melhoria no atendimento ao paciente.
Meincheim destaca que o Brasil é pioneiro no uso do modelo, com mais de 50 instituições de saúde que o utilizam. E já dá para observar onde estão os impactos mais significativos da prática:
“São os donos de processo em cada área, como o coordenador do pronto-atendimento e os enfermeiros e médicos-navegadores, que mais sentem as mudanças, pois têm seu trabalho aprimorado e garantem menos riscos no cuidado assistencial ao paciente.”
O especialista aproveita para contar um exemplo prático de como o process mining otimiza a gestão hospitalar.
“Um hospital brasileiro usou o process mining em seus dados de faturamento do SUS [Sistema Único de Saúde] e descobriu que, em um período de um ano, havia mais de 1.500 diárias de internação excedidas e não pagas porque a instituição não conseguia controlar bem a jornada do paciente. Uma vez feito o diagnóstico, a solução foi adotar o conceito de enfermeiros-navegadores, que acompanham o paciente em tempo real. Apenas com essa ação, reduziu-se em mais de 30% o prejuízo logo nos primeiros meses.”
A adoção de process mining somada a ferramentas de analytics é um caminho ainda mais promissor apontado pelo especialista, já que permite o mapeamento e a interpretação dos processos de forma mais precisa. Além disso, enquanto a metodologia faz o diagnóstico dos processos, a avaliação dos fluxos e as propostas de melhoria podem ser feitas remotamente.
Para o futuro, o especialista prevê que todo esse entendimento de como a organização opera fará parte de um movimento chamado hyper automation, com a completa automação de processos que foram melhor compreendidos a partir do process mining.