Interoperabilidade: o que avançou e o que ainda precisa ser superado rumo à Saúde Digital

O debate sobre a integração das informações entre diferentes grupos de Saúde segue aquecido e uma coisa é certa: quem conectar seus dados reduzirá custos e prestará um serviço mais assertivo

À medida que a Saúde Digital avança e aumenta a oferta de inovações e soluções para as empresas do setor e também para o próprio consumidor, o antigo desafio da interoperabilidade de sistemas permanece como uma questão de resolução cada vez mais complexa.  Tecnologias inteligentes, dispositivos vestíveis e aplicações voltadas à saúde e bem-estar são lançados a todo momento e precisam estar conectados entre si para que toda a informação gerada e coletada possa ser analisada para a melhor tomada de decisão pela saúde dos pacientes.  

“Hoje não existe dúvida de que a interoperabilidade é fundamental para que o cuidado das pessoas seja mais eficiente e assertivo, bem como para viabilizar a sustentabilidade econômico-financeira dessa assistência, já que ela combate desperdícios gerados, justamente, pela falta de informação no momento do atendimento”, declara Sérgio Cafalli, especialista em Saúde e investidor-anjo, com passagens pela diretoria executiva da Dasa Empresas e da Amil One. Ele lembra, ainda, que a falta de interoperabilidade  encarece o atendimento ao usuário do sistema, que, inevitavelmente, precisará arcar com os custos dos desperdícios gerados. 

Passado e presente 

Em 2019, antes da pandemia da covid-19 e da aceleração da transformação digital nos serviços assistenciais que impulsionou a telessaúde, foi publicado no MV Blog uma reportagem que listava os principais desafios da interoperabilidade na Saúde brasileira da época (clique aqui).  

Agora, passados exatos 2,5 anos desde o início da pandemia, Sérgio Cafalli analisa em que nível esse mercado avançou para a Gestão da Saúde e detalha, também, a agenda futura da interoperabilidade na Saúde Digital brasileira, bem como as barreiras estruturais e culturais que ainda persistem e que devem ser superadas.  

“O que é a interoperabilidade e seus benefícios à gestão da Saúde já é consensual a todos, mas  o ‘como implantar’ ainda será bastante discutido nos próximos anos”, Sérgio Cafalli, especialista em Saúde e investidor anjo 

  1. Reformulação do formato de assistência brasileiro 

A previsão em 2019 era a de que houvesse uma troca contínua de informações entre sistemas públicos e privados de Saúde, que permitiria uma reformulação de todo o formato de assistência brasileiro. Mas isso ainda não aconteceu, e hoje os desperdícios gerados pela falta de dados retornam ao usuário em forma de reajuste do plano de saúde e, até mesmo, em aumento de tabela, no caso para os que estão inseridos na saúde suplementar. Cafalli lembra, no entanto, que há alternativas que estão sendo testadas por alguns grupos para reverter esse cenário, embora o debate ainda seja maior do que a própria execução para concluir essa integração. Outra diferença de antes e agora apontada pelo especialista é o fato de o próprio usuário estar mais ciente da relevância de seus dados de Saúde e escolhendo consumir produtos e serviços cujas informações estejam mais integradas, ainda que parcialmente.  

  1. Aumento da segurança do paciente 

É importante reforçar que a interoperabilidade traz benefícios ao usuário do sistema, uma vez que todo seu histórico de saúde vai caminhar junto com ele, não importa onde for atendido. Expandindo essa ação para além do município, para o estado e até para o país inteiro, é possível ter uma boa ideia do ganho que a integração é capaz de trazer, deixando o atendimento médico muito mais seguro. E essa segurança, por sua vez, aumenta a eficiência da gestão do plano de saúde , porque reduz o desperdício com repetição de exames e consultas desnecessárias. Hoje, alguns grupos já estão mais avançados, tanto na reunião dos dados do paciente, quanto no trabalho a partir dessa análise, criando jornadas de saúde e linhas de cuidado pautadas em informações integradas. Cafalli enfatiza, no entanto, que, atualmente, esse modelo tem funcionado  melhor nas redes de saúde fechadas, onde a execução da interoperabilidade é muito mais rápida e tem sido apontada como estratégia de diferenciação ao oferecer uma melhor experiência ao usuário.   

  1. Medidas coletivas de saúde pública 

É inegável que quanto mais dados integrados, melhor é a informação e a assertividade na tomada de decisão da conduta médica. E esses dados já existem, pois todo atendimento médico gera informações relevantes que já poderiam estar sendo usadas. Claro que, com o passar dos anos, o volume de dados vai aumentar consideravelmente e, por isso, o especialista acredita que todos devem discutir mais sobre como montar esse quebra-cabeças da interoperabilidade que hoje está fragmentado e espalhado pelos diferentes sistemas. A ideia é que, ao fim, os dados trabalhem para os profissionais da saúde e não o contrário, para a melhoria tanto de análises populacionais quanto para medidas individuais de saúde.  

  1. O avanço do blockchain para segurança e proteção dos dados 

Ainda não existe um padrão consensual para a proteção dos dados, garantindo que as informações trocadas entre diversos serviços médicos cumpram a LGPD e altos padrões de cibersegurança. Existem hoje informações estruturadas que fazem parte de um mesmo diretório e as não-estruturadas que são reunidas a partir de diversas fontes. E ainda, segundo Cafalli, há informações sendo geradas em texto livre, o que por si só já deixa qualquer projeto de integração muito mais complexo. Por isso, para que a interoperabilidade seja de fato plena e não apenas utópica, é preciso que haja algumas definições de como essa troca de informações acontecerá  entre os diversos serviços, como codificações, nomes de formulários e campos, além, claro, dos próprios sistemas de gestão. Para o especialista, a complexidade em torno desta pauta é grande e que ela ainda está parada na barreira do planejamento. 

Visão futura  

A traçar uma previsão para o futuro, mais especificamente em relação ao que ainda precisa ser superado rumo à Saúde Digital interoperável, o especialista destaca que “a interoperabilidade já existe em alguns grupos de Saúde, ainda que não da maneira universal e idealizada por muitos, reunindo todo o histórico de saúde completo de todos. Para o futuro, vejo que a busca será cada vez mais na satisfação do cliente e na melhoria dos serviços prestados, que ainda tem a vantagem de reduzir os desperdícios tornando a assistência em Saúde melhor e mais sustentável”, prevê.     

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