Humanização hospitalar: quais são os desafios da saúde pública?

Criado em 1988, o Sistema Único de Saúde (SUS) foi gradualmente se transformando em um símbolo de ineficiência, atrasos e mau atendimento.

Humanização hospitalar: quais são os desafios da saúde pública?

A necessidade de elevar os padrões de qualidade na prestação de serviços de saúde impulsionou a criação de vários planos governamentais de humanização, especialmente a partir da década de 2000. 

Nesse contexto, destaca-se o Programa Nacional de Humanização da Assistência Hospitalar (PNHAH), promovido pelo Ministério da Saúde. Em 2003, esse programa foi sucedido pela Política Nacional de Humanização (HumanizaSUS), marcando uma evolução nas estratégias voltadas para a humanização nos serviços de saúde.

Mesmo com a implementação de programas tão importantes, qual a explicação para resultados tão pouco efetivos em todos esses anos? Quais são os desafios que distanciam as instituições públicas do sucesso da humanização hospitalar?

O que pode ser feito pelos secretários de saúde para, com poucos recursos, realmente avançar nesse processo de transformação? A seguir teremos respostas que ajudarão a esclarecer essas e outras questões importantes a serem trabalhadas na gestão da Saúde Pública. 

 

Mudança de conceitos

Humanizar a saúde pública envolve ultrapassar um atendimento médico burocrático, robotizado e em larga escala, substituindo essa rotina por uma abordagem que valorize o cidadão. É preciso enxergar o usuário do serviço em seus aspectos físicos, psíquicos e sociais, acompanhando-o para além dos muros dos hospitais. Trata-se de dar às unidades de saúde o que for necessário para adequá-la às pessoas. Nesse sentido, entram as estruturas físicas, tecnológicas, humanas e administrativas.

Um fator fundamental que compromete a efetivação do atendimento humanizado é a equipe frequentemente sobrecarregada, decorrente da escassez de profissionais e dos salários baixos. Isso muitas vezes leva os membros da equipe a assumirem jornadas duplas de trabalho na busca por melhores condições financeiras.

Para estimular essa mudança vale a revitalização de edifícios, trazer para dentro das instituições os melhores equipamentos disponíveis, adotar técnicas terapêuticas modernas, capacitar e motivar profissionais para trocarem a agressividade e a inércia por um atendimento interessado e de excelência, verdadeiramente humano. 

Evidentemente, como estamos falando sobre um processo de metamorfose completo, sua implementação envolve verbas. Não é nenhum mistério que os estados não costumam ter tantos recursos disponíveis. Essa limitação não é o único entrave nesse processo. Mais adiante, apontaremos alguns dos principais desafios que a rede pública de saúde enfrenta para oferecer um atendimento mais humanizado aos cidadãos.

 

As diretrizes do HumanizaSUS

De acordo com as orientações do Ministério da Saúde, a humanização hospitalar implica na compreensão e, claro, na aplicação das seguintes diretrizes:

 

  • Incentivar a atenção compartilhada, além de racionalizar o uso de recursos e insumos — especialmente de medicamentos;
  • Aumentar o diálogo de forma geral, promovendo a gestão participativa, colegiada e compartilhada dos cuidados;
  • Fortalecer a ideia da clínica ampliada, que prevê compromisso com o cidadão e a coletividade, estimulando diferentes práticas terapêuticas e a corresponsabilidade de todos na produção da saúde;
  • Adaptar os serviços ao universo e à cultura dos usuários, respeitando a privacidade e oferecendo o melhor acolhimento possível;
  • Implementar sistemas de comunicação que promovam o desenvolvimento, a independência e o protagonismo dos servidores e dos cidadãos.

 

Desafios de sua implementação

  • A péssima remuneração de servidores e falta de políticas remuneratórias por desempenho;
  • A ausência de programas de capacitação e ascensão na carreira — muito devido à rigidez dos estatutos dos servidores públicos;
  • A inexistência de um sistema de avaliação de performance efetivo — os existentes são meramente burocráticos, sem qualquer poder de transformação;
  • Uma cultura organizacional fraca, dificultando o comprometimento das equipes de saúde — fator motivado principalmente pela alta rotatividade dos cargos de alto escalão;
  • Amplitude do sistema, que cobre as dimensões continentais do país e atende às infinitas peculiaridades regionais de seus usuários — a solução passa pela descentralização, com reforço nas transferências constitucionais orçamentárias a estados e municípios, além de fortalecimento da atuação dos Tribunais de Contas, para análise e eventuais punições contra uso inadequado de recursos;
  • Um baixo investimento em TI, que gera improdutividade, induz a erros e ocasiona insatisfação pelo atendimento demorado e pouco eficiente.

 

Em pleno século XXI, os usuários dos serviços públicos continuam enfrentando longas filas para agendar consultas e exames, uma questão que poderia ser facilmente resolvida com a implantação de um sistema de gestão equipado com agendamento eletrônico. 

Em várias localidades, agentes comunitários de saúde ainda utilizam pranchetas em suas visitas familiares, resultando em perda de eficiência e aumentando o risco de extravio de documentos em papel. É crucial enfatizar que é viável realizar melhorias práticas na gestão sem comprometer as finanças públicas ou recorrer a aumentos de impostos. Para alcançar um Sistema Único de Saúde (SUS) mais acolhedor, eficiente e conveniente, é imperativo pensar na incorporação de tecnologias.

 

Ações de humanização

Embora diversos sejam os desafios enfrentados, reformular os conceitos de saúde pública não demanda obrigatoriamente uma revolução completa. Algumas iniciativas simples e estratégicas têm o potencial de causar um impacto significativo. 

 Veja alguns exemplos:

 

  • Redução de filas e do tempo de espera dos usuários com base em um atendimento mais acolhedor e resolutivo, promovido por sistemas automatizados de classificação de risco;
  • Implementação do prontuário eletrônico, que reúne o histórico clínico de uma vida inteira dos cidadãos, com dados que podem ser buscados em poucos segundos, além da possibilidade de compartilhamento de informação com outros profissionais e acesso a partir de quaisquer dispositivos com acesso à Internet;
  • Priorização da atenção primária, com equipes de profissionais multiespecialistas indo a campo, dotados de sistemas de informação instalados em dispositivos móveis, a fim de acompanhar, tratar, aconselhar e coletar dados clínicos dos usuários do serviço da região — lembrando que a atenção básica não agrega valor apenas à sociedade, mas também ao estado, por promover economia de recursos decorrentes de internações evitadas;
  • Adoção de protocolos clínicos baseados em evidências presentes em bancos de dados de sistemas de gestão em saúde, no intuito de subsidiar a tomada de decisão e oferecer aos profissionais de saúde um maior acervo acadêmico para a adoção de diretrizes terapêuticas;
  • Trabalho com indicadores de desempenho (como índice de giro de leitos, tempo médio de atendimento, taxa de mortalidade e taxa de infecção hospitalar, por exemplo), lembrando que, sem controle pleno de referenciais, é simplesmente impossível encontrar e corrigir qualquer tipo de falha;
  • Promoção de uma gestão mais participativa, já que não há humanização hospitalar sem diálogo com os próprios usuários do sistema.

Acredite, existe um SUS eficaz, e ele pode estar em sua própria cidade! Conforme evidenciamos no artigo, a implementação de ações estratégicas em pontos cruciais de processos e abordagens pode marcar o início de uma transformação significativa no sistema único de saúde. 

Saiba mais sobre a humanização hospitalar no âmbito da saúde pública e descubra como iniciativas como campanhas preventivas, otimização do uso de prontuários médicos e investimentos nas relações entre médicos e cidadãos podem fazer a diferença.




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