Benefícios e desafios da gestão hospitalar em home care
Ao atuar preventivamente, monitorando o paciente na sua própria casa com a estrutura de uma equipe multidisciplinar, o home care pode ser um modelo de cuidado bem mais eficiente a um custo bem menor.
A gestão hospitalar em home care surge como uma solução inovadora para o atendimento de saúde, proporcionando cuidados mais personalizados e humanizados, além de evitar que a internação em si aconteça, a partir de um gerenciamento remoto e efetivo de casos crônicos e/ou pessoas idosas.
Esse modelo, que leva os serviços de saúde para o ambiente domiciliar, traz uma série de benefícios tanto para os pacientes quanto para suas famílias, além de contribuir para a descompressão dos hospitais. No entanto, a implementação e a gestão efetiva desse modelo enfrentam desafios significativos que precisam ser discutidos.
Vantagens da gestão hospitalar em home care para pacientes e famílias
A gestão hospitalar em home care oferece uma alternativa acolhedora aos tradicionais cuidados hospitalares, permitindo que os pacientes recebam tratamento diretamente em suas residências, o que oferece benefícios práticos e emocionais tanto para os pacientes quanto para os familiares envolvidos.
Primeiro, o home care melhora significativamente o conforto e a qualidade de vida do paciente, ao proporcionar um ambiente familiar e seguro para o tratamento. Estar em casa reduz o estresse psicológico associado às longas internações hospitalares, que podem causar ansiedade, desconforto e até isolamento emocional, especialmente para pacientes com condições crônicas. No ambiente doméstico, os pacientes mantêm sua rotina e têm o apoio constante de familiares, o que fortalece o aspecto emocional do tratamento e pode ajudar em sua recuperação.
Além disso, para as famílias, o home care diminui a necessidade de deslocamentos frequentes ao hospital, o que economiza tempo e reduz os custos associados a essas visitas. A presença constante dos familiares permite que eles acompanhem de perto o tratamento e tomem decisões informadas ao lado dos profissionais de saúde.
Esse acompanhamento contínuo melhora a comunicação entre a equipe médica e os familiares, promovendo um entendimento mais claro sobre a condição e as necessidades do paciente, o que pode ajudar no ajuste do plano de cuidados e na escolha de abordagens que realmente atendam ao paciente.
Redução de custos e sobrecarga hospitalar com o modelo home care
Um dos aspectos mais atraentes do home care é a redução de custos tanto para os sistemas de saúde quanto para os pacientes. Com a pressão crescente sobre os hospitais e a necessidade de otimizar recursos, o home care oferece uma alternativa viável para desviar pacientes de internações prolongadas.
Durante a pandemia, o setor de atenção domiciliar foi muito importante para garantir a sustentabilidade do sistema de saúde brasileiro, com o monitoramento residencial de pacientes com Covid-19 para que não precisassem se expor ao ambiente hospitalar.
Com isso, houve um crescimento de 35% no número de brasileiros atendidos em home care durante 2019-2020, segundo o CENSO encomendado pelo Núcleo Nacional das Empresas de Serviços de Atenção Domiciliar (NEAD) e realizado pela Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas (Fipe) e publicada pelo jornal Folha de S.Paulo. Mas esses números já vinham em expansão antes mesmo da crise sanitária chegar: entre 2018 – 2019 o número de estabelecimentos que presta esse tipo de atendimento aumentou 22,8%.
Para José Celso Abrão Júnior, gerente de contas responsável pela área de home care na MV, os bons números correspondem a uma tendência na gestão em Saúde já que o modelo traz muitas vantagens:
“No caso da gestão hospitalar, a assistência domiciliar pode tanto servir ao gerenciamento remoto de casos, para prevenir uma internação hospitalar a partir do acompanhamento próximo de uma equipe multidisciplinar que inclui médicos, enfermeiros, fisioterapeutas e nutricionistas, quanto ser usada para abreviar a alta, permitindo uma desospitalização precoce do paciente (desde que as condições clínicas permitam) e, com isso, otimizando o giro de leitos na instituição.”
“Home care é uma modalidade de atendimento que não compete com o hospital, mas, sim, complementa o serviço hospitalar. Ao implementar esse tipo de serviço, a gestão hospitalar não estará criando um concorrente e sim um facilitador para sua operação.” José Celso Abrão Júnior, gerente de contas responsável pela área de home care na MV.
Se para a gestão hospitalar é importante ter uma referência exata, vinda do corpo clínico, para o melhor controle do giro de leito hospitalar, para o paciente a oportunidade de se tratar no próprio círculo familiar de confiança e com menos risco de infecção hospitalar são ainda mais relevantes.
Benefícios do atendimento no ambiente domiciliar
Humanização e qualidade do cuidado
O atendimento domiciliar permite uma abordagem mais humanizada, onde os profissionais de saúde podem criar vínculos mais próximos com os pacientes. Isso não apenas melhora a experiência do paciente, mas também pode levar a melhores resultados de saúde.
É importante lembrar que o home care engloba, também, o atendimento paliativo, destinado a pacientes que não estão mais em tratamento curativo.
“Do ponto de vista de humanização, poder ter esse paciente em casa e próximo da família ao invés de sozinho em um leito do hospital traz muitos ganhos para a qualidade do cuidado prestado”, esclarece Abrão.
Segurança no atendimento
A segurança dos pacientes é uma prioridade em home care. Ao receber cuidados em casa, muitos pacientes experimentam um ambiente mais familiar e confortável, reduzindo o risco de infecções hospitalares e complicações associadas à internação.
“Nós costumamos dizer que, durante a internação hospitalar, o paciente precisa seguir as regras do hospital, mas no home care essa premissa se inverte e é o profissional de Saúde que deve se adaptar às regras da casa, sem prejuízo da ciência”, constata o especialista.
Custo menor do que uma internação hospitalar
Os custos associados ao home care geralmente são mais baixos do que os custos de internação hospitalar. Com um atendimento mais focado e menos despesas com infraestrutura, o home care se mostra uma alternativa financeiramente viável.
“Pensando sob o ponto de vista do negócio, a adoção do home care provoca uma redução importante no custo do tratamento.”
Atendimento personalizado
Cada paciente é único, e o modelo de home care permite um atendimento mais adaptado às necessidades individuais. Isso significa que os profissionais de saúde podem ajustar os cuidados com base nas preferências e nas condições específicas de cada paciente, seja ele um tratamento curativo ou paliativo.
Desafios da gestão hospitalar em home care
Apesar das inúmeras vantagens, a gestão de home care enfrenta diversos desafios que podem comprometer a qualidade e a eficiência do atendimento.
Atender à individualidade de cada paciente
Atender à singularidade de cada paciente requer uma abordagem altamente personalizada, o que pode ser difícil em um sistema de saúde que muitas vezes opera em larga escala.
É importante deixar claro ao paciente que, por mais que a equipe de home care esteja na sua casa e prestando um serviço personalizado, há protocolos a serem cumpridos.
“O profissional de saúde sempre respeitará as individualidades de cada paciente, mas também precisa gentilmente lembrá-lo de que é ele quem sabe como devem ser feitos os procedimentos e quais técnicas precisam ser adotadas", reforça Abrão.
Lidar com grandes distâncias
A logística de atendimento domiciliar pode ser complexa, especialmente em áreas rurais ou em regiões com infraestrutura precária. Isso pode dificultar a entrega de cuidados adequados e pontuais.
Organizar a logística
A organização e a gestão eficiente da logística são cruciais para o sucesso do home care. Isso envolve coordenação entre diferentes profissionais de saúde, transporte de equipamentos e gerenciamento de suprimentos.
“Hoje, toda a logística ainda é feita de forma manual, mas a tecnologia pode ajudar a mudar esse cenário a partir do uso de sistemas de gestão que registram as informações e geram planos de ações acionando as áreas envolvidas. Com isso, será grande a redução de esquecimentos e/ou lapsos durante o processo e a gestão hospitalar poderá investir mais em profissionais assistenciais do que em pessoal administrativo para o home care”, sugere Abrão.
Falta de profissionais qualificados
Abrão conta que não existe um processo seletivo com esses profissionais que atuam em home care, sendo mais comum a contratação a partir de indicações de quem já trabalha em home care:
“E isso é um desafio porque esses profissionais vão atuar dentro da casa das pessoas e, portanto, é preciso que haja esse cuidado com suas qualificações e a exigência de registro nos devidos conselhos de classe é um requisito indispensável.”
Outro dificultador importante é a capacitação dos familiares para lidar com os equipamentos médicos que entram na sua casa.
Falta de legislação própria
Hoje já existem leis muito claras para o atendimento hospitalar, mas ainda não há uma legislação satisfatória para o atendimento domiciliar e isso não deve mudar nos próximos anos.
“O problema com a falta de leis adequadas ao home care é que quase tudo precisa ser adaptado da legislação hospitalar”, pontua Abrão, lembrando que a Resolução RDC 11, de janeiro de 2006, ainda é tida como a mais completa para o suporte do Atendimento Domiciliar.
A Resolução do COFEN Nº 0464/2014 normatiza a atuação da equipe de enfermagem na atenção domiciliar e traz conceitos importantes para este fim.
A Importância da integração de sistemas de saúde no home care
Para maximizar os benefícios do home care, é essencial que haja uma integração eficiente entre os diferentes sistemas de saúde. A integração permite que dados dos pacientes sejam centralizados e compartilhados de forma segura entre todos os profissionais envolvidos no cuidado, significando que qualquer mudança no quadro de saúde do paciente, desde pequenas alterações em sinais vitais até ajustes no tratamento, pode ser registrada e acessada por toda a equipe. Esse fluxo de informação evita erros e atrasos, garantindo que todos os envolvidos estejam atualizados e possam atuar de maneira coordenada.
Outro benefício da integração é a continuidade do atendimento entre hospital e home care. Pacientes que recebem alta hospitalar para continuar o tratamento em casa necessitam de uma transição suave, onde todo o histórico médico e o plano de cuidados sejam transferidos de forma estruturada para os profissionais de home care. Com sistemas integrados, essa passagem é realizada sem perda de dados ou necessidade de exames repetidos, garantindo que o paciente receba o cuidado certo desde o primeiro dia em casa.
Por fim, a integração também favorece a gestão eficiente dos recursos de saúde. Com um sistema centralizado, as equipes de home care conseguem agendar visitas, monitorar o estoque de medicamentos e organizar a logística de maneira mais precisa. Isso não só otimiza os recursos, mas também melhora a experiência do paciente, que passa a receber um atendimento bem-planejado e personalizado.
Conclusão
A gestão hospitalar em home care apresenta uma solução viável e benéfica para muitos pacientes e suas famílias, ao mesmo tempo que ajuda a aliviar a pressão sobre os hospitais.
No entanto, para que esse modelo funcione de maneira eficaz, é fundamental que os desafios enfrentados sejam reconhecidos e abordados com estratégias adequadas. A integração de sistemas de saúde e a ênfase na segurança e qualidade do atendimento são indispensáveis para garantir que o home care se torne uma opção sustentável e eficaz no cenário da saúde moderna.