4 benefícios e 5 desafios da gestão hospitalar em home care
Ao atuar preventivamente, monitorando o paciente na sua própria casa com a estrutura de uma equipe multidisciplinar, esse modelo de cuidado pode ser mais eficiente a um custo bem menor
Na gestão hospitalar, o home care é sempre uma boa consequência do atendimento prestado. Isso porque além de oferecer a continuidade do tratamento na casa do paciente, também ajuda a evitar que a internação em si aconteça, a partir de um gerenciamento remoto e efetivo de casos crônicos e/ou pessoas idosas.
Durante a pandemia, o setor de atenção domiciliar foi muito importante para garantir a sustentabilidade do sistema de saúde brasileiro, com o monitoramento residencial de pacientes com Covid-19 para que não precisassem se expor ao ambiente hospitalar. Com isso, houve um crescimento de 35% no número de brasileiros atendidos em home care durante 2019-2020, segundo o CENSO encomendado pelo Núcleo Nacional das Empresas de Serviços de Atenção Domiciliar (NEAD) e realizado pela Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas (Fipe) e publicada pelo jornal Folha de S.Paulo. Mas esses números já vinham em expansão antes mesmo da crise sanitária chegar: entre 2018 – 2019 o número de estabelecimentos que presta esse tipo de atendimento aumentou 22,8%.
Para José Celso Abrão Júnior, gerente de contas responsável pela área de home care na MV, os bons números correspondem a uma tendência na gestão em Saúde já que o modelo traz muitas vantagens:
“No caso da gestão hospitalar, a assistência domiciliar pode tanto servir ao gerenciamento remoto de casos, para prevenir uma internação hospitalar a partir do acompanhamento próximo de uma equipe multidisciplinar que inclui médicos, enfermeiros, fisioterapeutas e nutricionistas, quanto ser usada para abreviar a alta, permitindo uma desospitalização precoce do paciente (desde que as condições clínicas permitam) e, com isso, otimizando o giro de leitos na instituição.”
“Home care é uma modalidade de atendimento que não compete com o hospital, mas, sim, complementa o serviço hospitalar. Ao implementar esse tipo de serviço, a gestão hospitalar não estará criando um concorrente e sim um facilitador para sua operação.” José Celso Abrão Júnior, gerente de contas responsável pela área de home care na MV.
Se para a gestão hospitalar é importante ter uma referência exata, vinda do corpo clínico, para o melhor controle do giro de leito hospitalar, para o paciente a oportunidade de se tratar no próprio círculo familiar de confiança e com menos risco de infecção hospitalar são ainda mais relevantes.
Conheça a seguir quais são os principais benefícios da implementação do modelo em uma organização de Saúde e, também, quais são os desafios que precisam ser repensados e resolvidos:
4 benefícios para ficar de olho
1. Humanização e qualidade do cuidado
É importante lembrar que o home care engloba, também, o atendimento paliativo, destinado a pacientes que não estão mais em tratamento curativo.
“Do ponto de vista de humanização, poder ter esse paciente em casa e próximo da família ao invés de sozinho em um leito do hospital traz muitos ganhos para a qualidade do cuidado prestado”, esclarece Abrão.
2. Segurança no atendimento
O fato de o paciente estar na sua própria casa, em um ambiente conhecido e acolhedor, traz uma sensação de segurança e conforto tanto para ele quanto para seus familiares, favorecendo o bem-estar psíquico além do físico somente. Isso considerando a necessidade de atendimento às esferas bio psico social.
“Nós costumamos dizer que, durante a internação hospitalar, o paciente precisa seguir as regras do hospital, mas no home care essa premissa se inverte e é o profissional de Saúde que deve se adaptar às regras da casa, sem prejuízo da ciência”, constata o especialista.
Ainda pensando sobre segurança, o paciente em cuidados paliativos que segue internado tem mais risco de contrair uma infecção hospitalar e sofrer uma importante piora em seu quadro.
3. Custo econômico é menor do que a internação
Abrão calcula que o custo total de uma diária (24h) de internação domiciliar de alta complexidade está hoje entre R$ 800 a R$ 1.000, considerando valores médios praticados por operadoras de planos de saúde e variações regionais. Para comparação, apenas a diária na UTI já custa R$ 800, sem contar custos com outros profissionais (como fisioterapeutas, nutricionistas etc.), além de materiais, medicamentos e dieta:
“Pensando sob o ponto de vista do negócio, a adoção do home care provoca uma redução importante no custo.”
4. Atendimento personalizado e com a cara de cada paciente
Com a adoção do atendimento domiciliar, o paciente receberá um atendimento exclusivo e personalizado para a sua necessidade, seja ela um tratamento curativo ou um cuidado paliativo. Assim, é reforçada a criação de um vínculo com a equipe assistencial.
5. desafios para enfrentar
1. Atender a individualidade de cada paciente
É importante deixar claro ao paciente que, por mais que a equipe de home care esteja na sua casa e prestando um serviço personalizado, há protocolos a serem cumpridos.
“O profissional de saúde sempre respeitará as individualidades de cada paciente, mas também precisa gentilmente lembrá-lo de que é ele quem sabe como devem ser feitos os procedimentos e quais técnicas precisam ser adotadas", reforça Abrão.
2. Lidar com grandes distâncias
Mesmo com a adoção de uma equipe de enfermagem por 24 horas na residência do paciente, pode acontecer de a supervisão estar a quilômetros de distância do local quando for solicitada. Há também casos em que um mesmo supervisor da enfermagem cuida de mais de dez casas e esse gerenciamento a distância é complicado, conta o especialista, deixando claro que já existem lugares, no entanto, em que a família concorda com a instalação de câmeras e o profissional também concorda em assinar um termo aceitando o monitoramento do seu trabalho.
3. Organizar a logística
Se as grandes distâncias são problemáticas para a locomoção de pessoas, imagine para organizar a gestão remota de uma grande variedade de profissionais, como médicos, enfermeiros, técnicos de enfermagem, fisioterapeutas e outros profissionais que atuam diretamente no domicílio do paciente e precisam de materiais e medicamentos a seu dispor.
“Hoje, toda a logística ainda é feita de forma manual, mas a tecnologia pode ajudar a mudar esse cenário a partir do uso de sistemas de gestão que registram as informações e geram planos de ações acionando as áreas envolvidas. Com isso, será grande a redução de esquecimentos e/ou lapsos durante o processo e a gestão hospitalar poderá investir mais em profissionais assistenciais do que em pessoal administrativo para o home care”, sugere Abrão.
4. Falta de mão de obra qualificada
Abrão conta que não existe um processo seletivo com esses profissionais que atuam em home care. Abrão comenta que hoje em dia é mais comum a contratação a partir de indicações de quem já trabalha em home care:
“E isso é um desafio porque esses profissionais vão atuar dentro da casa das pessoas e, portanto, é preciso que haja esse cuidado com suas qualificações e a exigência de registro nos devidos conselhos de classe é um requisito indispensável.”
Outro dificultador importante é a capacitação dos familiares para lidar com os equipamentos médicos que entram na sua casa.
5. Falta de legislação própria
Hoje já existem leis muito claras para o atendimento hospitalar, mas ainda não há uma legislação satisfatória para o atendimento domiciliar e isso não deve mudar nos próximos anos.
“O problema com a falta de leis adequadas ao home care é que quase tudo precisa ser adaptado da legislação hospitalar”, pontua Abrão, lembrando que a Resolução RDC 11, de janeiro de 2006, ainda é tida como a mais completa para o suporte do Atendimento Domiciliar.
A Resolução do COFEN Nº 0464/2014 normatiza a atuação da equipe de enfermagem na atenção domiciliar e traz conceitos importantes para este fim.