Entenda os 3 níveis de atenção à saúde possíveis no Brasil e suas características
No Brasil, o sistema de saúde é fragmentado e organizado por níveis de atenção. Vamos conhecê-los!
No sistema de saúde brasileiro, os níveis de atenção à saúde são uma abordagem estratégica e essencial para organizar os serviços médicos e oferecer atendimento eficiente aos pacientes.
Esses níveis são abordados em três distintas esferas: a atenção primária, a atenção secundária e a atenção terciária. Essa estrutura hierárquica visa assegurar uma assistência completa e integrada de saúde aos pacientes.
De modo geral e resumido, a atenção primária atua como ponto inicial de contato com o sistema. Em seguida, a atenção secundária provê cuidados especializados e diagnósticos mais complexos. Por fim, a atenção terciária é reservada aos casos mais intricados e requer intervenções altamente especializadas.
Essa abordagem escalonada não apenas otimiza a utilização de recursos, mas também contribui para uma distribuição mais equitativa dos serviços de saúde, garantindo um atendimento qualificado e abrangente a toda a população brasileira.
É exatamente essa descentralização a responsável por promover um melhor atendimento à população, uma vez que cada um desses níveis corresponde a determinado conjunto de serviços assistenciais disponibilizados aos usuários (sendo alguns de maior complexidade e outros mais básicos). Tais categorias, determinadas pela Organização Mundial de Saúde (OMS).
Neste artigo, entenderemos melhor os detalhes destes 3 níveis, como são caracterizados, seus desafios e formas de articulação e integração no sistema de saúde.
Nível primário
Nesse nível de atenção, estão as Unidades Básicas de Saúde (UBSs), conhecidas popularmente como postos de saúde. Elas desempenham o papel de promover políticas direcionadas tanto à prevenção de doenças como à preservação do bem-estar nas comunidades. Vale ressaltar que essas ações são organizadas pela esfera municipal.
No nível primário de atenção, os profissionais de saúde se articulam para atuar não apenas nas Unidades Básicas, mas também em diversos espaços da comunidade (como centros comunitários e escolas), além de fazerem visitas domiciliares às famílias.
A ideia é que as ações de cada UBS sejam integradas e tenham a devida continuidade. Para isso, programas de caráter educativo voltados para a higiene pessoal, para a conservação de hábitos saudáveis e a conscientização a respeito da vacinação são algumas das medidas possíveis e desejáveis.
Pode-se entender esse nível primário de atenção como a porta de entrada para o Sistema Único de Saúde (SUS). Nessa etapa, são marcadas consultas e exames básicos (hemograma, citopatológico, etc), além de também poderem ser realizados procedimentos básicos, como curativos, por exemplo.
Aqui, a tecnologia disponível não é necessariamente avançada. Os equipamentos são voltados para diagnóstico e terapêutica (como aparelhos de raio-X e de ultrassonografia). Já em relação à capacitação dos profissionais de saúde, trata-se de uma formação mais ampla, com a fundamental presença de médicos de saúde da família e clínicos gerais.
Mesmo com todas essas limitações, o percentual de resolução dos casos que chegam ao nível primário de atenção é grande. Conclui-se daí que a maioria das situações recebidas nessa etapa podem, sim, ser resolvidas por meio do atendimento prestado pelos profissionais envolvidos.
Isso só mostra que o propósito da divisão por níveis está sendo cumprido: determinar que o acesso dos indivíduos ao sistema de saúde ocorra considerando a gravidade e a urgência.
Dessa maneira, evita-se que grandes centros especializados tenham que lidar com um alto número de casos de simples resolução e sem características que configurem uma situação de urgência.
Nível secundário
No nível secundário de atenção à saúde estão as Unidades de Pronto Atendimento (UPAs), os hospitais e outras unidades de atendimento especializado ou de média complexidade. Nesses estabelecimentos podem ser realizados procedimentos de intervenção, tratamento de situações crônicas e de doenças agudas.
Como disponibilidade tecnológica, os equipamentos presentes no nível secundário são mais sofisticados que os do nível primário. Assim, os mesmos aparelhos de ultrassonografia e de raio-X, por exemplo, provavelmente serão de uma geração mais nova e avançada. Além disso, pode haver também recursos para a realização de outros exames como endoscopias e ecocardiogramas.
Sobre os profissionais envolvidos, no nível secundário já se pode contar com médicos de áreas especializadas, como Cardiologia, Endocrinologia, Ortopedia ou mesmo Psiquiatria e Oftalmologia. Lembrando que essas especializações implicam em cerca de 3 anos de formação por meio de residência médica até que o profissional esteja apto a atender como especialista.
A expectativa é que os casos recebidos no nível secundário, encaminhados pelo nível primário, possam ser atendidos satisfatoriamente por meio do trabalho dos profissionais e da utilização dos equipamentos que compõem essa etapa de atenção. Na assistência à saúde prestada aos usuários no nível secundário também estão presentes os serviços de urgência e emergência.
A organização desse nível é feita com base em macro e microrregiões de cada estado, devendo apresentar tanto ambulatórios como hospitais. Deve também ter competência para dar assistência a cidadãos internados e para disponibilizar o devido tratamento às enfermidades de média complexidade.
Nível terciário
No nível terciário de atenção à saúde estão os hospitais de grande porte (alta complexidade), subsidiados pela esfera privada ou pelo estado. Nessas instituições podem ser realizadas manobras mais invasivas, caso haja necessidade, intervindo em situações nas quais a vida do usuário do serviço está em risco.
No aparelhamento dos estabelecimentos do nível terciário estão presente máquinas de tecnologia (como equipamentos para ressonância magnética, tomógrafos e hemodinâmicas, por exemplo).
O objetivo nesse nível de atenção à saúde é garantir que procedimentos para a manutenção dos sinais vitais possam ser realizados, dando suporte mínimo para a preservação da vida sempre que preciso.
Nessa etapa atuam médicos especialistas em áreas que exigem uma formação mais extensiva, como a Neurocirurgia e a Nefrologia Pediátrica.
A expectativa é que no nível terciário existam suportes tecnológico e profissional capazes de atender a situações que no nível secundário não puderam ser tratadas por serem casos mais raros ou complexos demais.
Desafios na implementação dos níveis de atenção à saúde
A implementação dos níveis de atenção à saúde enfrenta diversos desafios, que podem impactar a eficácia do sistema e o atendimento aos pacientes. Alguns deles incluem:
Desigualdades regionais
O Brasil é um país extenso e heterogêneo, o que dificulta a distribuição equitativa dos serviços de saúde e a oferta adequada de recursos em todas as regiões. Áreas remotas e de difícil acesso podem enfrentar carência de profissionais e infraestrutura, resultando em disparidades no atendimento em todos os níveis de atenção à saúde.
Carência de profissionais qualificados
A falta de profissionais de saúde capacitados e suficientes em todas as áreas e especialidades pode comprometer o funcionamento dos níveis de atenção à saúde. A ausência de especialistas em determinadas regiões pode dificultar o encaminhamento adequado dos pacientes para tratamentos mais complexos.
Fragmentação e falta de integração
A comunicação deficiente entre os diferentes níveis de atenção à saúde pode levar à fragmentação dos cuidados. A falta de integração entre os serviços e profissionais pode resultar em redundâncias, atrasos no diagnóstico e tratamentos inadequados.
Sobrecarga na atenção primária
A atenção primária muitas vezes enfrenta uma demanda excessiva, sendo a porta de entrada para o sistema de saúde. Isso pode resultar em longos tempos de espera, diminuição da qualidade do atendimento e dificuldade no gerenciamento de pacientes com condições crônicas nos demais níveis.
Financiamento inadequado
A falta de recursos suficientes destinados à saúde pode limitar a expansão e aprimoramento dos serviços em todos os níveis de atenção. A escassez de investimentos pode afetar a infraestrutura, aquisição de equipamentos, capacitação de profissionais e disponibilidade de medicamentos.
É importante ressaltar que o sucesso do funcionamento de um sistema de saúde fragmentado por níveis de atenção depende essencialmente de uma boa gestão. No que lhe concerne, implica em preparo, planejamento (fundamentado em informações relevantes) e no uso de soluções tecnológicas que tragam mais eficiência às instituições.
O efetivo controle sobre os processos é o que garante o funcionamento adequado dos serviços. Esse controle se deve ao uso de um banco de dados ou à implementação de protocolos com registros eletrônicos das informações médicas sobre os usuários e as devidas orientações para o tratamento da doença em questão.
A relação entre os níveis de atenção à saúde e o Sistema Único de Saúde (SUS)
A relação entre os níveis de atenção à saúde e o Sistema Único de Saúde (SUS) é de fundamental importância para o funcionamento efetivo e abrangente do sistema de saúde brasileiro.
O SUS é a principal política pública de saúde no país, fundamentado nos princípios da universalidade, integralidade e equidade. Os níveis de atenção à saúde, por sua vez, compreendem uma estratégia organizacional que visa otimizar o atendimento ao paciente em diferentes níveis de complexidade dentro desse sistema de política pública.
Articulação e integração dos níveis de atenção à saúde
A articulação e integração dos níveis de atenção à saúde são fundamentais para o funcionamento eficiente e eficaz do sistema de saúde como um todo. Ao conectar harmoniosamente a atenção primária, secundária e terciária, é possível estabelecer uma rede contínua e coordenada de cuidados médicos, beneficiando diretamente os pacientes e refletindo em uma assistência de qualidade.
A atenção primária, atuando como ponto de entrada, desempenha um papel crucial ao encaminhar os indivíduos para níveis mais especializados quando necessário, evitando assim a duplicação de exames e procedimentos.
Por sua vez, a atenção secundária e terciária, ao receberem os pacientes encaminhados, têm acesso a um histórico mais completo, permitindo diagnósticos mais precisos e tratamentos mais adequados.
Além disso, a integração facilita o compartilhamento de informações e conhecimentos entre os profissionais de saúde, promovendo uma abordagem multidisciplinar que resulta em melhores resultados clínicos.
Essa conexão entre os diferentes níveis também contribui para a otimização dos recursos e a racionalização dos gastos em saúde, uma vez que evita desperdícios e favorece o direcionamento adequado dos investimentos.
Agora que você já sabe um pouco mais sobre os 3 níveis de atenção à saúde no sistema público do país, aproveite para entender melhor as vantagens de uma rede de saúde pública 100% integrada e como a tecnologia pode contribuir para elevar a eficiência na aplicação dos recursos públicos.