Sistema de gestão impede que glosas prejudiquem crescimento dos pequenos e médios hospitais

Contestação de contas por parte das operadoras voltam a subir na pandemia e acendem sinal de alerta da gestão hospitalar para a necessidade de parametrizar processos e investir em tecnologia

Sistema de gestão impede que glosas prejudiquem crescimento dos pequenos e médios hospitais

A pandemia provoca inúmeros eventos de gestão num hospital. Um dos mais preocupantes é o aumento no índice de glosas. As contestações de pagamentos por parte das operadoras, que haviam caído de 4,19% da receita líquida dos hospitais em 2018 para 3,86% em 2019, voltaram a subir para 4,10% em 2020, justamente no contexto da Covid-19.

O mesmo aconteceu com o prazo médio de recebimento, que passou de 66,95 dias para 68,72 dias no período. Os dados são do Observatório 2021 da Anahp (Associação Nacional dos Hospitais Privados) e reforçam a urgência de os hospitais efetuarem uma boa administração das glosas por meio de um sistema de gestão hospitalar  

Se a situação está assim nas grandes instituições, ela representa um desafio ainda maior para as de pequeno e médio porte:

“Hospitais associados à Anahp possuem estruturas mais robustas. Por isso, fico imaginando como as glosas estão sendo tratadas em hospitais filantrópicos ou em instituições pequenas, com menos de 50 leitos, que equivalem a 50% dos hospitais de Minas Gerais, por exemplo”, alerta Marcelo Augusto do Nascimento, consultor de gestão de auditoria e faturamento com mais de 30 anos de experiência em administração hospitalar.   

Para o especialista, um dos motivos para o aumento no número de glosas na pandemia pode ser o uso de medicamentos não padronizados.

Operadora de Saúde e prestador de serviços possuem uma tabela pré-acordada de medicamentos, materiais e procedimentos liberados.Tudo o que o hospital usar fora desta listagem está sujeito a glosas”, elucida Nascimento, citando também a adoção de home office no backoffice hospitalar como outro possível fator para a elevação na retenção dos pagamentos.  

Para voltar a baixar esses números é preciso rever processos internos, alerta o especialista:

“A expectativa em torno de um sistema de gestão hospitalar é enorme, mas se não for feita uma parametrização de procedimentos correta no sistema, não há software que faça milagre para reduzir a quantidade de glosas.”    

A prevenção, portanto, depende de processos hospitalares bem feitos e organizados em toda a jornada de cuidado do paciente.

“Sem realizar essa etapa, eu costumo dizer que a gestão hospitalar que adquire um software vai apenas informatizar a bagunça e reclamar que o sistema não funciona, quando na verdade o que faltou foi mapear e planejar bem os processos e capacitar os funcionários para que os executem”, provoca Nascimento.  

gestão do faturamento não difere em um hospital de grande, médio ou pequeno porte, o que muda é o volume. Por isso, é fundamental que todas as pessoas envolvidas nesse processo — do enfermeiro ao chefe do faturamento — estejam cientes do cronograma de envio das contas e dos valores acordados com as operadoras:

“A boa comunicação entre os departamentos, que pode ser facilitada pelo uso de um sistema de gestão, é muito importante para evitar as glosas. Vou dar um exemplo prático a partir do uso de órteses e próteses. Muitos médicos operam seus pacientes sem saber o valor que as operadoras pagam ao hospital por esse material. Vamos supor que ele escolha uma órtese que custa R$ 750, mas o convênio reembolsa apenas R$ 450. O que um hospital sem um processo bem definido faz? Compra o material mais caro, emite uma nota fiscal que está sujeita à glosa e, quando finalmente recebe, percebe que pagou R$ 300 a mais para utilizar esse material em seu cliente. Agora imagine isso sendo repetido diversas vezes, pois o que acabo de descrever não é raro”, conta Nascimento.   

O especialista cita outro gargalo bastante comum que começa na entrada do paciente ao hospital:

“Minha mãe, Ephigenia Souza, possuía quatro prontuários distintos no hospital onde costumava se tratar, cada um com uma grafia do nome diferente. Isso é um enorme risco assistencial, sem dúvida, mas também um risco civil e financeiro à instituição”, reforça Nascimento.

Uma auditoria interna, além de garantir a existência de prontuário único do paciente, também pode ajudar na prevenção de glosas ao analisar os códigos usados, as descrições de procedimentos e enviar os problemas encontrados para uma análise dos departamentos corretos em busca de uma causa-raiz que evite reincidências.  

Um sistema de gestão hospitalar bem implantado e escrito em cima de processos bem desenhados pode evitar que situações como as descritas acima aconteçam. A tecnologia ainda permite um fluxo de caixa mais saudável para o pequeno e médio hospital planejar o crescimento.

“Mas muitas instituições ainda não usam o sistema em sua totalidade, apenas navegam em partes dele quando poderiam ter o apoio de relatórios tanto para investir no negócio primordial do hospital, que é a assistência, quanto para dar suporte às tomadas de decisões dos gestores, enfatiza o especialista.

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