O que os gestores precisam saber sobre ética e segurança no uso da IA
Os gestores precisam entender os principais desafios éticos e de segurança envolvidos na aplicação da inteligência artificial em ambientes assistenciais e administrativos.

A inteligência artificial (IA) está revolucionando o setor da saúde, oferecendo desde diagnósticos mais precisos até melhorias na gestão administrativa de clínicas, hospitais e operadoras.
No entanto, esse avanço acelerado também traz desafios significativos no campo da ética e da segurança. Para os gestores da área da saúde, entender esses aspectos é essencial para garantir uma implementação responsável e eficaz das soluções baseadas em IA.
Este artigo tem como objetivo apresentar um panorama completo sobre o uso ético e seguro da inteligência artificial na saúde, abordando desde os principais riscos até as melhores práticas em governança de dados. Boa leitura!
Panorama atual sobre o crescimento da IA na saúde
Nos últimos anos, a aplicação da inteligência artificial na saúde deixou de ser um conceito futurista para se tornar uma realidade concreta na vida dos médicos e instituições de saúde. Ferramentas baseadas em IA já são utilizadas no apoio ao diagnóstico por imagem, na predição de doenças crônicas, na triagem de pacientes e até na automação de processos administrativos.
De acordo com dados da consultoria Grand View Research, o mercado global de IA na saúde deve ultrapassar US$ 187 bilhões até 2030. No Brasil, soluções como prontuários eletrônicos inteligentes, assistentes virtuais, algoritmos preditivos e sistemas de apoio à decisão clínica ganham cada vez mais espaço em instituições públicas e privadas.
Essa expansão, no entanto, levanta uma série de questões éticas e de segurança que não podem ser ignoradas. A responsabilidade sobre decisões tomadas por sistemas autônomos, a proteção de dados sensíveis e a transparência dos algoritmos estão entre os principais pontos de atenção.
Principais preocupações éticas
Viés algorítmico, autonomia médica e responsabilidade por decisões
Um dos maiores desafios da IA na saúde é o viés algorítmico. Como os sistemas de IA são treinados com dados históricos, eles podem reproduzir (ou até amplificar) desigualdades existentes. Isso pode afetar diretamente a acurácia dos diagnósticos ou das recomendações clínicas, especialmente para populações sub-representadas.
Além disso, há uma tensão entre o uso de ferramentas automatizadas e a autonomia dos profissionais de saúde. Embora os algoritmos possam oferecer sugestões, a decisão final deve sempre estar nas mãos do médico ou do gestor clínico. A IA deve atuar como apoio, e não como substituição da expertise humana.
Outro ponto importante é a responsabilidade por decisões equivocadas. Se um algoritmo errar uma recomendação e isso causar danos ao paciente, quem responde legalmente? O fabricante do software, o hospital que o implantou ou o médico que seguiu a sugestão?
Essas questões ainda carecem de regulamentações mais claras, e os gestores precisam se antecipar a elas com contratos, políticas internas e treinamentos específicos.
Riscos de vazamento de dados sensíveis e medidas de proteção
O setor da saúde lida com dados altamente sensíveis, como históricos médicos, exames, diagnósticos, tratamentos, entre outros. Qualquer vazamento pode comprometer não só a privacidade dos pacientes, mas também a reputação da instituição.
Com a chegada da IA, que exige grandes volumes de dados para treinamento e operação, os riscos se amplificam. O armazenamento em nuvem, a troca de informações entre sistemas e o uso de dispositivos conectados aumentam a superfície de ataque.
Para mitigar esses riscos, é fundamental adotar medidas como:
- Criptografia de ponta a ponta;
- Segmentação de acesso baseada em perfis;
- Monitoramento constante de atividades suspeitas;
- Anonimização dos dados utilizados em treinamentos de IA;
- Auditorias regulares de segurança.
O envolvimento de equipes multidisciplinares (TI, jurídico, compliance, assistência) na definição de protocolos também é essencial para fortalecer a proteção das informações.
Conformidade com a LGPD e outras legislações
Desde a entrada em vigor da Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD), as instituições de saúde precisam reforçar seus cuidados com o uso e tratamento de dados pessoais. Quando trazemos a IA para este contexto, a prevenção precisa ser ainda mais estratégica.
A LGPD determina princípios como a finalidade, a necessidade e a transparência no uso dos dados — todos diretamente impactados pelas soluções de IA. Além disso, exige o consentimento claro dos pacientes, o que pode ser complexo em ambientes com automações.
Outras legislações também devem ser observadas, como o Código de Ética Médica, resoluções do CFM e, para operadoras de saúde, as normativas da ANS. Em ambientes internacionais, regulamentos como o GDPR (Europa) e o HIPAA (EUA) também servem de referência para boas práticas.
O gestor precisa garantir que qualquer solução de IA implantada esteja em conformidade com essas leis, o que requer desde a escolha de fornecedores responsáveis até a revisão dos contratos e processos internos.
Transparência e explicabilidade dos algoritmos: por que isso importa
Uma das principais críticas aos sistemas de inteligência artificial é a sua natureza “caixa-preta”, ou seja, a dificuldade em entender como o algoritmo chegou a uma determinada conclusão.
Na área da saúde, essa falta de explicabilidade pode comprometer a confiança dos profissionais e dos pacientes. Um médico dificilmente seguirá a sugestão de um sistema se não entender os critérios que embasaram aquela recomendação.
Por isso, a transparência dos algoritmos deve ser uma prioridade. Ferramentas de IA precisam apresentar:
- Evidências que sustentem suas recomendações;
- Histórico das decisões anteriores;
- Motivações para sugestões diferentes do padrão;
- Alertas em caso de incerteza ou baixa confiabilidade.
Os fornecedores devem oferecer também uma documentação técnica clara, relatórios de desempenho e mecanismos de validação contínua.
O conceito de “IA explicável” (ou Explainable AI – XAI) vem ganhando força justamente para permitir que humanos compreendam, confiem e supervisionem os sistemas, especialmente em áreas críticas como a saúde.
Boas práticas de governança de dados em instituições de saúde
A adoção responsável da inteligência artificial depende de uma base sólida de governança de dados. Isso significa estabelecer regras, estruturas e responsabilidades claras para o uso, armazenamento, compartilhamento e análise de informações clínicas e administrativas.
Entre as boas práticas que os gestores devem considerar, destacam-se:
- Criação de um comitê de ética em tecnologia: responsável por avaliar os impactos éticos das soluções implantadas e garantir a conformidade legal;
- Mapeamento de fluxos de dados: identificando quais dados são coletados, onde são armazenados, quem tem acesso e como são usados;
- Políticas de consentimento informado: garantindo que pacientes estejam cientes de como seus dados serão utilizados, especialmente em treinamentos de IA;
- Auditoria de algoritmos: promovendo revisões periódicas para detectar possíveis vieses, falhas ou mudanças no desempenho dos modelos;
- Capacitação contínua das equipes: incluindo temas como ética em IA, segurança cibernética e uso responsável da tecnologia nos treinamentos internos.
A governança de dados deve ser encarada como uma estratégia organizacional, não apenas como responsabilidade da área de TI. O engajamento da alta liderança é essencial para garantir que as práticas se consolidem e evoluam com o tempo.
Ética e segurança como pilares da transformação digital na saúde
A inteligência artificial tem o potencial de transformar profundamente o setor da saúde — tanto no cuidado ao paciente quanto na gestão das instituições. No entanto, para que essa transformação seja positiva, é imprescindível que venha acompanhada de um compromisso firme com a ética e a segurança.
Gestores que se antecipam aos riscos, compreendem os limites da tecnologia e adotam boas práticas de governança estarão mais preparados para liderar suas organizações rumo a um futuro mais eficiente, humano e sustentável.
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