O jogo dos sete erros e acertos da gestão hospitalar no uso do ERP
Segurança proporcionada pelos protocolos clínicos e a redução do ciclo financeiro da conta médica são duas estratégias favorecidas pelo uso de um sistema de gestão integrado
A operação dos negócios em saúde exige o uso de estratégias que promovam qualidade aos serviços ao mesmo tempo, em que garantam a sustentabilidade da organização. Assim, é papel da gestão hospitalar propor ações voltadas para a redução de custos e otimização de recursos financeiros da instituição. Afinal, a saúde pode não ter preço, mas tem custo, como descreve Valmir de Oliveira, diretor comercial de produto da MV.
Para que o hospital sempre opere no azul, a gestão hospitalar deve estar amparada por ferramentas e estratégias que auxiliem o gestor na tomada de decisões e no remanejamento de recursos e investimentos. Nesse sentido, o especialista da MV cita sete maneiras de utilizar o Enterprise Resource Planning (ERP) para equilibrar as finanças do hospital. Conheça:
1 - Na gestão inteligente de medicamentos e insumos
A integração entre os processos das diversas áreas assistenciais permite a melhor gestão dos medicamentos e insumos. Oliveira cita como exemplo a prescrição eletrônica, por meio da qual o ERP informa ao setor de farmácia sobre os medicamentos e materiais descartáveis necessários para o paciente, autorizados e faturados pelo seu convênio. Assim, também é possível avaliar se existem medicamentos com a mesma eficácia e com custo mais baixo — em especial em hospitais que trabalham com o Sistema Único de Saúde (SUS) ou aqueles que possuem recursos próprios, que, em vez de aumentarem o faturamento, visam reduzir os custos.
A gestão inteligente também traz assertividade na compra de medicamentos, já que é possível acompanhar em tempo real o estoque e o consumo, garantindo uma programação de compras que permita que nada falte e evite aquisições desnecessárias.
2 - Na redução de glosas
O ERP dá mais segurança à gestão hospitalar de que tudo aquilo que é prescrito e dispensado será efetivamente faturado.
“Quando o hospital tem um sistema de gestão integrado, aquilo que o médico prescreve vai automaticamente para a farmácia, para o laboratório, para a área de imagem, permitindo a validação dos procedimentos e condutas. Se é necessária uma autorização da operadora, por exemplo, esse alerta está automatizado no sistema e a solicitação é encaminhada para o setor responsável, que terá SLAs [sigla de Service Level Agreement, ou Acordo de Nível de Serviço] por tipo de guia para serem autorizadas. Isso reduz o tempo médio de autorização, refletindo no volume de contas que serão entregues dentro da mesma competência”, explica o especialista da MV.
Oliveira estima que, com o ERP bem utilizado, em mais de 95% dos casos eletivos o paciente recebe alta com todos os procedimentos autorizados e lançados na conta médica — fundamental para evitar glosas e perdas financeiras.
3 - Na diminuição do ciclo financeiro das contas médicas
Além da redução das glosas, o faturamento tem no sistema de gestão hospitalar um aliado para a redução do ciclo financeiro das contas médicas. Nos hospitais que fazem parte da Associação Nacional dos Hospitais Privados (Anahp), esse ciclo chega a durar, em média, 70 dias, mas pode alcançar até 110 dias em outras organizações, de acordo com Oliveira.
Com a conta fechada e todos os procedimentos executados já autorizados na alta médica do paciente, há pouca margem para contestação na fase de auditorias. A tendência, então, é de aceleração do ciclo de produção e fechamento, ampliando, consequentemente, o número de contas entregues numa mesma competência e melhorando, assim, o fluxo de caixa.
4 - Na automação de protocolos clínicos
Para uma gestão hospitalar focada no equilíbrio financeiro aliado à qualidade da assistência, o uso de protocolos clínicos promove o melhor resultado com o melhor custo. Na adoção desse modelo, o ERP alerta o profissional médico ou da equipe multidisciplinar que um paciente está em risco de entrar em determinado protocolo, sugerindo ao profissional qual tratamento deve ser prescrito.
A adoção de protocolos clínicos gerenciáveis possibilita a redução do tempo médio de permanência do paciente, o que, consequentemente, diminui a taxa de óbito e infecção, refletindo no custo do tratamento e, ainda, ampliando a segurança do paciente.
Oliveira cita como caso de sucesso a Unimed Recife que, com a implantação do ERP e a certificação HIMSS 7, obteve como resultado a redução no custo do tratamento. Um exemplo está no protocolo de fratura de fêmur da instituição, que reduziu em 30% a média de permanência e refletiu em uma economia de R$ 1,2 milhão com diárias, taxas e medicamentos.
5 - Na adoção da cultura paperless
A adoção da cultura paperless, incentivada pelo uso do ERP, também é aliada da administração hospitalar no controle das finanças. Oliveira estima que, em um hospital com cerca de 240 leitos, é possível reduzir R$ 400 mil de gastos apenas com a eliminação de papel e insumos para impressão.
Além disso, a gestão hospitalar também consegue eliminar o custo com o armazenamento de dados pelo SAME (Serviço de Arquivo Médico e Estatística), permitindo, ainda, economia de espaço físico e energia dispensada para esse processo, o que pode ser aproveitado em áreas produtivas.
6 - No incentivo à desospitalização
Aqui a redução dos custos acontecem quando o gestor se vale dos dados clínicos necessários para indicar a alta do paciente e oferecer cuidados e assistência em home care, por exemplo.
“A receita hospitalar rende maiores ganhos, em geral, até o terceiro dia da hospitalização, considerado que é o período em que são realizados exames de diagnóstico, procedimentos (taxas, diárias, OPMEs), cirurgias e também uso de medicamentos e materiais descartáveis. A partir do terceiro dia, esse paciente na grande maioria dos casos só consumirá diárias, algumas taxas e insumos, do ponto de vista financeiro, além do desconforto para ele e seus familiares e o risco de eventos adversos, claro”, destaca o especialista da MV.
O ideal é que o giro de leito ocorra a cada três dias para um melhor desempenho, mantendo assim a instituição em alta performance.
7 - Na garantia da segurança do paciente
Com menos dias de hospitalização, há também redução de possíveis erros e eventos adversos na assistência ao paciente — responsáveis, entre julho de 2016 a junho de 2017, por 829 mortes por dia no Brasil, segundo o Primeiro Anuário da Segurança Assistencial Hospitalar no Brasil, produzido pelo Instituto de Estudos de Saúde Suplementar (IESS) em parceria com a Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG).
Além das mortes, erros e eventos adversos significam custos maiores com intercorrências que poderiam ter sido evitadas. Com menor risco de erros, há, também, a redução dos casos de judicialização, que podem causar grandes impactos financeiros para a gestão do hospital, conforme lembra Oliveira.