O De-Para: da eficiência na gestão de Saúde
Para especialistas, diferença de resultados entre organizações está justamente na forma como administram seus recursos com o apoio da tecnologia para a tomada de decisão
A expressão hospital vem do latim, hospitalis, que tem o sentido de "ser hospitaleiro". Os primeiros hospitais, e consequentemente primeiras organizações de Saúde do mundo, surgiram por volta do ano 300 d.C. Eram locais para levar os enfermos, mas também os órfãos, miseráveis, até mesmo viajantes e tratar-lhes da saúde da melhor maneira possível, com os recursos disponíveis na época. Em geral, quem provia esse tratamento eram os ricos — e adeptos do Cristianismo, que tinha a caridade como um dos pilares —, enquanto os mais pobres nada pagavam por ele. Não havia, portanto, a necessidade de se preocupar com a gestão em Saúde, por isso mesmo, pouco se falava sobre esse aspecto.
Do século três ao atual século XXI, muita coisa mudou. Nesse “De-Para” da gestão de Saúde, é possível observar que conforme a medicina e a tecnologia se desenvolvem, o mesmo ocorre com os aspectos administrativos das mais variadas organizações assistenciais hoje existentes. Afinal, para manter o atendimento, são necessários recursos financeiros. Encontrar o equilíbrio entre a qualidade do serviço ofertado aos usuários e os custos para viabilizá-lo é a chave para a sobrevivência do setor como um todo.
Rodrigo Leite, médico especialista em gestão e CEO da FSL Governance, explica que, no Brasil, as instituições passaram a se preocupar com a gestão quando perceberam que problemas financeiros poderiam inviabilizar suas operações. Mais que isso, muitas notaram que sem o controle dos gastos, as dificuldades se acumulavam, o que as levou a buscar profissionais que tivessem conhecimentos administrativos para resolver esse desafio.
“A formação do médico, até hoje, não contempla a gestão. Aprendemos a diagnosticar, fazer cirurgias e tratar o paciente de forma ampla, mas quando precisamos contratar uma secretária para o consultório é muito mais complexo”, exemplifica.
A principal consequência da falta de gestão na Saúde pode ser traduzida em números: estimativas mundiais dão conta de que 30% dos gastos de uma organização do setor são desperdícios. Para mudar esse quadro, promover uma gestão eficiente é o caminho.
Foi visando controlar melhor o faturamento das contas médicas que, nos anos 1980, surgiram no Brasil os primeiros sistemas de gestão (Enterprise Resource Planning, ERP). No início eram bastante simples, mas, conforme crescia a preocupação com a gestão, ampliava-se também a complexidade dessas e de outras ferramentas que foram surgindo, tais como:
- Prontuários eletrônicos;
- Sistemas de armazenamento e gestão de imagens médicas;
- Soluções de Business Intelligence (BI);
- Analytics;
- Balanced Scorecard (BSC);
- Key Process Indicators (KPI);
- Gestão da qualidade;
- Mais recente, Inteligência Artificial.
“A tecnologia, sozinha, não resolve a gestão. Mas essa é uma crença que ainda existe hoje em dia: muitos profissionais pensam que vão comprar um software para sua clínica ou hospital e resolver todos os desafios no momento em que ligarem o computador na tomada. Mas não é isso que acontece.” Para Leite, tecnologia e gestão são complementares na Saúde Digital.
O que a tecnologia proporciona são informações que apoiam a tomada de decisão. Não é, portanto, a tecnologia que torna a gestão de Saúde eficiente, mas sim o uso adequado que se faz dos dados gerados por ela.
“Se a organização adota um sistema, mas não sabe o que fazer com os dados que ele coleta, vai sentir pouca diferença prática nos resultados”, destaca Leite.
Para Alceu Alves, vice-presidente da MV, essa é justamente a diferença percebida no mercado brasileiro em relação a organizações que adotam o mesmo sistema, mas obtêm resultados diversos.
“A diferença está em todo o resto: processos, pessoas, governança, estratégia, planejamento”, comentou durante apresentação no MV Experience Fórum, evento que reuniu executivos, gestores e profissionais de Saúde para compartilhar conhecimentos e experiências para desenvolver e disseminar as melhores práticas do setor.
Alves acredita que a gestão em Saúde é o que faz as pessoas virarem a chave mental e passarem a, de fato, assumir um comportamento que incentive a inovação na Saúde — apoiado pela tecnologia, mas não dependendo apenas dela. Caso contrário, a solução se torna unicamente repositório de dados, sem oferecer o apoio para a tomada de decisão que se anseia ao investir na TI.
Portanto, para promover a eficiência na gestão de Saúde, os especialistas indicam que o caminho é pensar, primeiro, em promover uma administração profissionalizada. Para tanto, é fundamental contar com profissionais qualificados e capazes de extrair os melhores resultados dos sistemas e das tecnologias como um todo.
“Não há inteligência artificial que substitua a percepção de um bom gestor”, garante Leite.