Conheça as principais dificuldades na adoção do prontuário eletrônico do SUS

Falta de equipamentos e conectividade e a não adesão dos profissionais no preenchimento dos dados são desafios

Conheça as principais dificuldades na adoção do prontuário eletrônico do SUS

O Ministério da Saúde tornou obrigatório o uso do prontuário eletrônico do SUS em todas as Unidades Básicas de Saúde (UBSs) do País em 2016. No entanto, a implantação da tecnologia, chamada oficialmente de Prontuário Eletrônico do Cidadão (PEC), ainda esbarra em algumas dificuldades, como ausência de infraestrutura tecnológica ou não adesão dos profissionais. Tanto que, até o fim do mesmo ano, prazo máximo para a adequação, das 41,6 mil unidades de Saúde brasileiras, somente em torno de 11 mil conseguiram migrar seus dados do papel para o sistema digital, alcançando 28,5% do total.

Uma das principais barreiras está na condição técnica, pois é necessário ter computadores para instalação do software e rede estável para a integração com a plataforma e-SUS Atenção Básica. Das quase 25 mil UBSs que justificaram a não implantação, 84,9% alegaram insuficiência de equipamentos e 73,9% disseram ter problemas com conectividade.

“Muitas localidades brasileiras não dispõem de rede estável, especialmente na região Norte do País, onde internet chega por satélite e com péssima conexão”, destaca Fernando Teles de Arruda, coordenador adjunto do curso de Medicina do campus Bela Vista da Universidade Municipal de São Caetano do Sul (USCS).

A penalidade pela não adoção é a perda de repasses federais. É possível, conforme o ministério, que os gestores solicitem pagamento retroativo até dois meses depois, desde que implantem o prontuário eletrônico do SUS. Para tanto, a Pasta federal criou um sistema para auxiliar as UBSs na adoção da tecnologia.

Ao receber a justificativa da não implantação, o ministério analisa caso a caso e verifica quais são as necessidades daquela unidade de Saúde. Com esses dados, será desenhado o Plano Nacional de Apoio à Implantação do Prontuário Eletrônico do Cidadão (PEC), que contará com apoio à aquisição de equipamentos, conectividade e capacitação dos profissionais.

Aliás, a baixa capacidade dos funcionários para o uso do PEC é citada por 75% das UBSs que não implantaram o sistema. Para o especialista da USCS, o que falta é o hábito do profissional em realizar os registros, independentemente da forma como eles são feitos.

“Se o médico ou enfermeiro não cria rotinas para preenchimento dos dados, não importa se em papel ou computador, todo o processo fica prejudicado.”

Arruda acredita ser preciso engajar a equipe por meio de capacitação antes da implantação do prontuário eletrônico do SUS.

“Mais que ensinar a parte operacional da ferramenta, a capacitação precisa sensibilizar o profissional sobre a importância daqueles dados para todo o sistema”, recomenda.

 

PEC x PEP

A adoção do prontuário eletrônico do SUS muda a forma de trabalho de todos os profissionais da UBS, da recepção à gestão. Por isso, é preciso se adequar para utilizar todo o potencial que o sistema permite. Mesmo assim, o PEC ainda é considerado pelo coordenador da USCS aquém em relação ao Prontuário Eletrônico do Paciente (PEP), software privado utilizado por grandes hospitais e organizações de Saúde.

“A proposta do Ministério da Saúde com o PEC é criar o embrião de um PEP, que permita esquematizar o registro dos cidadãos e possibilitar ferramentas de gestão para a Saúde Pública.”

O PEP e o PEC são tecnologias diferentes. Enquanto a solução voltada aos cidadãos representa a informatização de um processo que já existe, o PEP permite outras funcionalidades, que ajudam a otimizar o processo de diagnóstico, evitar ocorrência de erros médicos ou de prescrição de medicamentos, entre outros.

Além disso, o PEP possibilita o cruzamento de dados por meio de Business Intelligence (BI), a fim de fornecer material estratégico para tomada de decisões por parte da gestão. A implantação de BI para instituições de Saúde, de qualquer porte, possibilita a busca e interpretação de informações armazenadas para apoio às decisões no ciclo de vida do cidadão (nascimento ao óbito), bem como produtividade, controle, avaliação e gestão dos estabelecimentos.

O PEC consegue ‘conversar’ com o PEP das redes privadas e pode ser utilizado em locais com sistema híbrido. Mas os municípios que já utilizam PEP próprio não precisarão migrar para o sistema feito pelo SUS, desde que esteja devidamente homologada para permitir a interoperabilidade.

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