A importância dos indicadores no combate à Infecção hospitalar

O monitoramento contínuo de processos e recursos ajuda a instituição a conter e prever casos

A importância dos indicadores no combate à Infecção hospitalar

Motivo de preocupação genuína, as infecções hospitalares (IH) exigem uma resposta estratégica por parte dos gestores. Monitoramento, indicadores, diretrizes e tecnologia são alguns dos aliados no combate.

As IHs são o evento adverso que mais matam nos serviços de Saúde em todo o mundo. Apesar disso, 20% a 30% delas são consideradas preveníveis por meio de programas de controle e higiene intensivos. Entenda melhor lendo a primeira parte do especial: Infecção hospitalar: entenda o que é e suas principais causas.

 

Enfrentando a infecção hospitalar

Para Aguinaldo Pereira Catanoce, diretor técnico do hospital da Pontifícia Universidade Católica de Campinas (PUC Campinas), a base da estratégia é o monitoramento.

“A prevenção é possível por meio de um modelo de gestão técnica: conhecendo, mapeando e controlando os processos assistenciais”, diz.

Os protocolos, principalmente aqueles instituídos pelas comissões hospitalares em conjunto com os gestores do setor, são essenciais na padronização e busca da qualidade assistencial.

"Os indicadores são fundamentais, pois aquilo que não se pode medir não se pode melhorar”, completa.

“O uso de métricas é essencial para dar um parâmetro da situação atual e do quanto e onde é importante agir”, explica Ana Cristina Gales, professora de infectologia da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) e consultora da Sociedade Brasileira de Infectologia (SBI).

“É por meio de índices como taxa de infecção hospitalar e taxa de infecção corrente sanguínea que é possível gerar relatórios estratificados e analisar onde alocar os recursos para melhorar o quadro”, conclui.

 

Tecnologia e gestão

O monitoramento de um ambiente complexo como um hospital exige automação — afinal, não é possível medir no lápis pacientes e suas doenças, profissionais e seus desempenhos, leitos e sua taxa de ocupação, equipamentos e suas condições, entre outros elementos.

A informática supre essa demanda por meio de sistemas de gestão hospitalar, ferramentas que abarcam, integradamente, informações clínicas, operacionais, administrativas e estratégicas.

“O uso de soluções de gestão sistematiza os processos, construindo indicadores e não deixando o hospital esquecer nenhum ponto estratégico no combate às IH, contribuindo para a segurança do paciente, lembra a infectologista.

Nos Estados Unidos, usa-se o chamado índice de infecção padronizado (standardized infection ratio - SIR). O indicador, monitorado pelo Centro de Controle e Prevenção de Doenças (Centers for Disease Control and Prevention - CDC), mede, ao longo dos anos, a porcentagem de ocorrência de cinco tipos de IH em cada estado do país. Com tantos dados, o Relatório de Progresso Nacional e Estadual das Infecções Hospitalares, elaborado em 2016, não só verificou uma diminuição no número de ocorrências em todo o território como também mostrou quais infecções e estados merecem mais atenção.

No Brasil, até fevereiro de 2017, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) recolhia somente informações sobre Infecções Primárias de Corrente Sanguínea (IPCS), Cesarianas (ISC-PC) e mapeamento de resistência bacteriana em cada estado.

Conforme a agência, em 2015, 2.036 hospitais notificaram 25.265 casos de IPCS que foram confirmadas laboratorialmente, a maioria delas em UTIs adulto e pediátricas. No mesmo ano, 1.223 emitiram avisos de ISC-PC, resultando em 9.466 casos da infecção em um universo de 861.604 cesarianas (ou seja, aproximadamente 1,1%).

Em fevereiro de 2017 a lista aumentou, sendo monitorada também a incidência de Pneumonia associada à ventilação mecânica (PAV), de infecção do trato urinário associada a cateter vesical de demora (ITU-AC) e de infecção de sítio cirúrgico (ISC). A atualização faz parte do Programa Nacional de Prevenção e Controle de IRAS (PNPCIRAS) 2016-2020.

Segundo o órgão, hospitais que não notificam regularmente os seus dados podem ser autuados pela vigilância sanitária local durante as inspeções realizadas nos serviços de saúde, mas isso ainda é realizado de forma heterogênea em todo o País.

“Os estados que possuem Coordenações Estaduais/Distritais/Municipais de Controle de Infecção Hospitalar fortes e estruturadas têm maiores condições de orientar os serviços de Saúde e assim aumentar a adesão às notificações”, disse, em nota.

A Anvisa aponta como maior dificuldade do enfrentamento ao problema:

“O uso indiscriminado dos antimicrobianos em toda a comunidade (saúde humana, animal e agricultura), a baixa conscientização da população, dos profissionais e dos gestores de saúde e o baixo investimento em recursos humanos e insumos dentro dos serviços de saúde, o que tem provocado um aumento da disseminação de microrganismos multirresistentes em todo o Brasil”.

Para Aguinaldo Pereira Catanoce, da PUC Campinas, as Comissões de Controle de Infecção Hospitalar (CCIH), obrigatórias em hospitais brasileiros desde 1998, devem atuar tal como ministérios públicos dentro da instituição, por meio de “monitoramento e fiscalização constante, utilizando metodologia profissional, estatística e autônoma, sem interferências administrativas ou por vícios assistenciais”, argumenta.

 

O papel da certificação

Ana Cristina, da SBI, ressalta o papel da busca pela certificação como arma na batalha contra as infecções hospitalares.

“Em um hospital certificado, o índice de IH sempre cai, porque os processos ocorrem de forma mais sistematizada. Não é só ter deadline, é saber se as práticas serão seguidas. A medida foi implantada, mas tem método de controle? Está sendo efetiva? Perguntas como essas passam a surgir”, lembra.

Pereira concorda, mas ainda vê muito espaço para crescimento:

“Todos os indicadores, tanto assistenciais como administrativos, são melhores nos hospitais acreditados. Porém, infelizmente, menos de 10% dos hospitais do Brasil têm seus processos totalmente mapeados e controlados”.

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