5 passos para ressignificar a relação entre médicos e profissionais de TI na Saúde Digital
Especialistas destacam mudança de mentalidade como fator primordial para que equipes multidisciplinares atuem juntas em prol da transformação digital na Saúde
As profundas transformações pelas quais passa o setor de saúde exigem da gestão das organizações uma estratégia que une conhecimentos, experiências e processos, tanto da área assistencial quanto do departamento de Tecnologia da Informação (TI). Apesar de serem polos distintos e de terem caminhado até aqui de forma separada, especialistas explicam que a única forma de promover a Saúde Digital nas instituições é que médicos e profissionais de TI se unam em prol do negócio e do paciente.
Rafaela França, superintendente de Infraestrutura da Rede Mater Dei, e Paula Calderon, CMIO (Chief Medical Informatics Officer) da Rede São Camilo, estão vivendo o mesmo momento, mas tomaram caminhos diferentes de carreira — uma vem da TI, outra é médica. Porém, ambas têm no trabalho o mesmo objetivo: aproximar essas duas áreas. Elas representam a própria capacidade de diálogo entre esses dois mundos, por suplantarem as limitações de suas formações e bagagens originais. Elas foram as convidadas do webinar: “Médicos e profissionais de TI juntos pela transformação digital na Saúde”, transmitido em outubro de 2019 pela MV.
Paula lembra que TI e medicina são, sim, completamente diferentes entre si, por isso o desafio de integração é bastante complexo. Encarar essa complexidade é um dos primeiros passos para transformá-la — algo que já começa a acontecer, especialmente fora do país.
“Trata-se, portanto, de um caminho sem volta. Mas a integração é desafiadora porque são modelos mentais diferentes. A única forma de aproximar essas áreas do conhecimento é levar o profissional da Saúde para dentro do ambiente de TI”, ressaltou a médica.
Para Rafaela, alcançar a Saúde Digital por meio do protagonismo desses dois profissionais distintos requer um trabalho ativo em três eixos de atenção: processos, sistemas de gestão e pessoas.
“E quando tratamos de pessoas, os protagonistas são os profissionais de TI e os da assistência. Aqui na Rede Mater Dei trouxemos enfermeiros e médicos para dentro da TI e, assim, os profissionais do departamento puderam se sentir no lugar deles, compreender o core assistencial”, disse.
O ponto-chave da transformação digital na saúde está, então, em promover o relacionamento e estimular os gatilhos mentais da mudança, ocorrendo em cada profissional individualizadamente, mas com o objetivo comum de promover a Saúde Digital na instituição. As especialistas elencaram cinco passos fundamentais para promover ganho de eficiência e qualidade na operação do negócio por meio da união das equipes de TI e assistencial. Conheça:
1 - União de equipes
Médicos, enfermeiros e profissionais ligados diretamente com o cuidado ao paciente devem estar próximos dos colaboradores do departamento de TI. Mais que isso, é preciso uma interação entre os times na qual cada grupo apresente as demandas e compreenda o modus operandi das áreas. As especialistas notam uma diferença de resposta a esse estímulo conforme as gerações, por isso, o engajamento deve ser constantemente encorajado pelos gestores e lideranças de ambos os lados e considerando as diferenças pessoais, de experiência de carreira e de vida de cada time.
2 - Educação digital
Conceitos como a metodologia ágil e o design thinking, bastante conhecidos da TI, devem ser apresentados às equipes assistenciais para promover a integração e o contato direto entre as áreas. O objetivo aqui é promover um olhar diferenciado e multidisciplinar dos problemas complexos enfrentados no dia a dia de uma organização de saúde, para que a TI sinta a dor do médico, do enfermeiro e dos demais profissionais no uso das tecnologias e entenda de que forma melhorá-la, sempre com o foco no negócio e, consequentemente, no cliente/paciente.
É preciso, ainda, fazer capacitações constantes do médico e do corpo clínico para o uso da tecnologia nas organizações, trazendo os profissionais de saúde para o conhecimento de TI. Nos Estados Unidos, inclusive, já há profissionais específicos que detém essa capacidade de cruzar as duas áreas: os bioinformatas.
3 - Negócio e cliente no centro da transformação
As equipes multidisciplinares na Saúde Digital devem compreender que os objetivos do negócio devem estar no foco de cada processo. Além disso, o paciente, aqui compreendido também como cliente, e suas necessidades devem ser o ponto crucial para a entrega de valor e qualidade assistencial.
4 - Benchmark
Buscar experiências no mercado é uma forma de traçar estratégias inovadoras para a organização. Na Saúde Digital, as mudanças acontecem em curto prazo. Um olhar analítico para outras formas de adoção de tecnologias e engajamento de capital humano auxilia o gestor a obter resultados de forma mais eficaz.
5 - Gestão da mudança
Mobilizar uma abundância de pessoas traz, também, desafios complexos. Na Saúde Digital, a gestão da mudança se dá de duas maneiras: cultural e processual. A primeira diz respeito à forma de pensar e agir dos profissionais. Contudo, essa transformação acontece de maneira não-linear, uma vez que cada indivíduo tem uma personalidade. Assim, a mudança de processos deve manter a sintonia entre as equipes assistencial e de TI, com impactos reduzidos e com os objetivos da instituição mantidos como foco.
Avançar rumo à Saúde Digital, portanto, demanda a compreensão de que o relacionamento entre o paciente e a organização foi transformado pela tecnologia. Atualmente, as pessoas estão conectadas e a inovação na saúde faz parte da rotina. Uma organização na qual a TI e a assistência atuam juntas em prol do paciente garante um diferencial competitivo em um setor em profunda transformação de processos, cultura e valores.