Gestão de planos de saúde: operadoras criam alternativas de caixa para lidar com inflação das contas médicas

O descompasso entre receita e custos na Saúde tem elevado a inflação das contas médicas a números impactantes para toda a operação. Buscar novas possibilidades financeiras é essencial

Gestão de planos de saúde: operadoras criam alternativas de caixa para lidar com inflação das contas médicas

Depois do reajuste negativo nos planos de Saúde de -8,19%, determinado pela Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS) em 2021 , as operadoras tiveram de lidar com a alta da inflação médica, também conhecida como variação dos custos médico-hospitalares (VCMH), que chegou a 27,7% entre setembro de 2020 e setembro de 2021. A partir de uma análise rápida desses números já dá para perceber que a conta não fecha: o custo para manter os serviços ficou muito acima da arrecadação no mesmo período. 

Agora, no último reajuste concedido pela ANS (em 2022, foi de 15,5%), houve uma perspectiva mais otimista para o fluxo de caixa. Contudo, dizem os especialistas, ainda será preciso aguardar o efeito desse reajuste na prática, uma vez que os planos são ajustados paulatinamente, considerando os aniversários de contratação. Por isso, nos últimos tempos, a gestão de planos de Saúde tem buscado alternativas para lidar melhor com o descompasso financeiro e direcionar as possibilidades acessíveis para, de fato, resolver os problemas de caixa.  

Um pouco de história 

Antes de nos desdobrarmos nas alternativas possíveis para lidar com a inflação das contas médicas, convém conhecer um pouco mais sobre essa história. Durante muitos séculos, a saúde brasileira se resumia ao investimento que o governo fazia na saúde pública, que muitas vezes era filantrópica.

Prédio da extinta Santa Casa de Olinda, a primeira do Brasil 

 Em 1539, foi instituída a primeira Santa Casa nacional, na cidade de Olinda (PE), e por muitos séculos houve pouquíssimo investimentos, em estruturas de maior complexidade. 

Isso mudou quando a família real portuguesa chegou ao Brasil e teve início um movimento maior com as estruturas de saúde existentes, bem como com o saneamento básico e a educação, com investimentos que acompanhavam a nova demanda. De lá, até os anos 1930-1940, quando Getúlio Vargas abriu o mercado nacional e começaram a aparecer os primeiros planos de saúde, o País viveu um projeto de saúde bastante embrionário, com a aplicação de uma subsistência de saúde.  

“Foi só nas últimas décadas, quando as operadoras perceberam que poderiam fazer as pessoas se fidelizarem em um plano de Saúde, que o país passou a ver a saúde como um negócio e hoje a saúde suplementar é uma opção para quase 50 milhões de pessoas - número que corresponde a cerca de um brasileiro a cada cinco quatro”, conta Gustavo Queiroz, diretor financeiro do MV Bank.  

Saúde: um negócio em crise? 

A Saúde suplementar, portanto, diferentemente do que acontece no SUS, passou a estar disponível em pólos específicos do País, onde havia uma população interessada em seu consumo. E em momentos como o que vivenciamos agora, em que há uma redução na arrecadação — ou até no número de beneficiários — junto com o aumento dos custos, as dificuldades começam, especialmente entre as pequenas e médias operadoras.  

“Durante a pandemia, os leitos foram direcionados para a operação de covid-19, cuja remuneração é menor que a convencional hospitalar, com o agravante de exames e procedimentos eletivos terem sido postergados”, resume Queiroz, que conclui: “Isso por si só fez com que os indicadores financeiros dos hospitais retraíssem"

Além disso, a inflação das contas médicas têm sofrido com a dolarização não apenas dos insumos, mas também, da folha de pagamento. O dólar chegou a R$ 5,70, quando no fim de 2019 estávamos acostumados com a moeda americana a R$ 3,80. “A partir disso, até a remuneração do profissional de Saúde tem sofrido com essa alteração cambial que afeta IGP-M e IPCA. Em 2021, por exemplo, o IGP-M atingiu o ápice de 39% e agora parece superar o número da inflação que chegou a 11%, em seu pico”, conta o diretor financeiro. Todo esse aumento é refletido diretamente no fluxo financeiro.

Outro ponto que tem afetado diretamente a receita é a própria tecnologia médica e sua concorrência, já que a Saúde Digital passou a ser cada vez mais relevante e com profissionais mais escassos para fazê-la operar de forma eficiente.  

Por fim, a perda de beneficiários nos planos de Saúde, que passaram de 47 milhões para 41 milhões logo no início da pandemia, representa uma evasão de 15% com representativa redução da receita. “Além da saída de muita gente, houve um aumento na inadimplência, o que fez com que a receita da operadora caísse numa época em que a utilização dos serviços aumentou, mas não de uma forma que rentabiliza a operação, que é com exames e procedimentos eletivos”, descreve Queiroz. Nesse cenário, muitos prestadores de serviços chegaram a encerrar as atividades permanentemente: “E tudo isso gerou um passivo financeiro grande, mas também um passivo de saúde cujo reflexo sentiremos daqui há 5 anos, com pessoas afastadas de seus trabalhos e aposentadas precocemente”, prevê o especialista. 

Em busca de solução 

Já que o cenário é desafiador, o setor de Saúde precisa encontrar formas de atingir uma gestão financeira mais eficiente, levando em conta uma característica particular que é a necessidade de fluxo de caixa para pagar fornecedores e insumos à vista, ou mensalmente, enquanto aguarda entre 70 a 90 dias para receber os devidos repasses.   

“Como a folha de pagamento de médicos e profissionais da Saúde costuma ser a maior fatia dos custos, o adiantamento de recebíveis é boa uma saída para as instituições de Saúde cumprirem com suas obrigações”, conta Queiroz, explicando que algumas fintechs, como o MV Bank, fazem o adiantamento desses valores que podem ser pagos depois de 90 dias, para ajudar o fluxo de caixa com empresas que conseguem dar créditos específicos para a Saúde.  

;