Um novo ano com velhos desafios: as tendências para a gestão da Saúde em 2023

A gestão da priorização dentro do contexto da Saúde se faz necessária para conhecer gargalos profundamente e ser assertivo na tomada de decisões. Outro pilar importante consiste na exploração das inovações que serão alavancadas nos próximos meses. Conheça cinco delas

Um novo ano com velhos desafios: as tendências para a gestão da Saúde em 2023

Em outubro, o Gartner divulgou uma análise que fala sobre o que o instituto chama de "Sistema Imune Digital". Do inglês Digital Immune System, o DIS resume a combinação de diferentes práticas e tecnologias (como design, desenvolvimento, operações e analytics) usadas com intuito de mitigar os riscos de negócios. Sim, o conceito pode ser aplicado em quaisquer segmentos de atuação, mas do ponto de vista de gestão da Saúde, especialmente quando falamos de Saúde Digital, podemos traçar um paralelo bastante intuitivo. 

Como leucócitos dentro de um organismo vivo, os aparatos que integram o DIS são responsáveis por compor esse sistema imunológico, combatendo a atuação de corpos estranhos ao passo que blindam o ecossistema de agentes causadores de doenças — no caso de organizações, as doenças poderiam ser qualquer atrito gerado por fontes externas e internas, como escassez de processos padronizados, falta de integração nos sistemas, pouca margem para manobras financeiras que possam manter a sustentabilidade do negócio e, até mesmo, falhas em segurança e outros tantos motivos que gestores da saúde conhecem bem e precisam driblar cotidianamente. 

Assim, ao adentrar o mundo digital, é preciso cada vez mais alimentar esse tal sistema imunológico do negócio — que representa o organismo vivo neste contexto —, estabelecendo o máximo possível de anticorpos para proporcionar uma blindagem eficiente. Mas, e quando falamos de futuro, como deixar o sistema imunológico robusto? 

O primeiro passo: priorizar 

Quando se fala sobre tendências, Eduardo Ceccon, gestor de projetos em Command Center na saúde, observa que é "fundamental pensar em perspectiva olhando para um novo ano-calendário", mas também entende que é "extremamente difícil" cravar algum tipo de certeza. Isso, lembra o especialista, a pandemia mostrou muito bem. "São muitas variáveis que não estão sob o nosso controle e podem prejudicar qualquer tipo de rota". 

Se não há receita para prever um futuro em definitivo, como gestores no setor podem atuar em prol de uma blindagem boa o suficiente para manter a vela ajustada e controlar possíveis percalços? A resposta pode ser resumida em uma palavra: priorização. 

"Precisamos priorizar fatos de gestão, dado o momento ímpar em que vivemos na pandemia. Priorizar, se reinventar, reorganizar e enfrentar o desafio que nos foi exposto", afirma o executivo. A gestão da prioridade, na visão de Ceccon, é uma realidade trazida pela crise provocada pelo coronavírus, mas que fica como legado na execução de um bom gerenciamento. 

As grandes tendências 

Além da priorização, é preciso também evoluir a gestão, seja em dinâmicas, seja em ferramentas, para que se possa comportar os novos tempos digitais e a celeridade com que o cuidado com o paciente precisa ser tratado dentro de instituições de saúde. Por isso, também é preciso falar sobre tecnologias quando se fala de tendências. 

Para Ceccon, quatro serão os tons pincelados no que tange às tendências para o próximo ano.  A começar por um ponto que já é pilar em muitos negócios: dados. 

Este e outros quatro pontos críticos listados a seguir devem ganhar atenção especial de gestores da Saúde que queiram não apenas aprender a lidar com desafios diários com mais eficiência, mas também querem evoluir estrategicamente os ecossistemas de organizações pelas quais eles são responsáveis. 

Regulamentação e uso de dados 

Nos últimos anos, a digitalização da saúde ganhou destaque nas mesas de reuniões e conferências da área, pautando também os planejamentos estratégicos de gestores que precisariam aprender a lidar com um futuro inevitável e irreversível. Nesse contexto, inovações como o Prontuário Eletrônico do Paciente (PEP) assumiram a posição central de uma estrutura que prevê melhorias físicas e processuais, bem como promove impacto direto na peça elementar de qualquer instituição: o paciente. 

À medida que o prontuário foi digitalizado, assim como muitos recursos usados por médicos, enfermeiros e demais especialistas da saúde e os quais anteriormente eram preenchidos de forma manual, aumentou-se também a circulação de dados sensíveis e a superfície de risco das instituições de saúde. Desde então, a regulamentação do uso de dados dentro desse ecossistema é um desafio que deve permanecer pelos próximos anos. 

"Dentro de atendimento assistencial e dessa ideia de digitalização, a proteção desses dados será cada vez mais essencial", afirma Ceccon. Como evolução natural desse ecossistema, o especialista também prevê um futuro com plataformas digitais transfronteiriças, com pessoas controlando seus dados de saúde, com acesso transparente à progressão do prontuário e evolução da sua própria condição. 

"Em resumo: com a expansão e a ampliação da saúde digital, a regulamentação e a proteção dos dados é tendência forte e vai evoluir ativamente em 2023", observa Ceccon. Para ele, é preciso também incluir a expertise humana. "Quando falamos do ponto de vista assistencial e médico, é fundamental que este fator se faça cada vez mais presente". 

5G  

A tecnologia de conectividade que promete mais velocidade e menor latência já começou a funcionar no Brasil. Em julho, Brasília se tornou a primeira cidade a oferecer a conexão e a tendência é que os benefícios dessa tecnologia tragam evolução em 2023. "O 5G vem como combustível forte para proporcionar velocidade", afirma Ceccon. 

Para ele, a conexão com velocidade e baixa latência permitirá uma atuação eficaz dos Centros de Comando.

"Para o monitoramento, velocidade é elemento crítico para reportar fatos de gestão que estão em não conformidade. É permitir rapidez à ação para regulação da falha, afinal, quanto mais rápido eu publico uma incongruência, mais agilidade, maior segurança e qualidade eu tenho, bem como garanto a própria sustentabilidade econômica", destaca Ceccon. 

Em um cenário com crescimento de teleconsultas, telemonitoramento, telecirurgias e outras tantas atuações remotas dentro da jornada assistencial, o 5G se faz essencial para galgar mais agilidade. "Claro que é um processo de melhoria contínua, visto que não é uma realidade acessível em todo o País, mas podemos visualizar a chegada desse novo padrão de conectividade como uma porta de entrada para inovação, que vem para impulsionar e proporcionar uma guinada na saúde digital". 

Internet das Coisas (IoT) 

A IoT prevê a conexão entre dispositivos, com a capacidade de transmitir dados por meio da internet sem fio.

"O conceito foi introduzido há anos, mas a ideia de melhoria contínua permite que essa tecnologia possa ser aplicada a registro de exames, marcapassos cardíacos e outros, permitindo a troca de informações entre médico, instituição de saúde e paciente", observa o especialista. 

Para Ceccon, não adianta garantir uma conexão ágil dentro de uma banda larga, se não há os componentes e equipamentos necessários para que essa agilidade possa ser aplicada na prática — e a IoT endereça esse espaço. 

Metaverso 

Ceccon acredita que o conceito, impulsionado em 2022 com provocações promovidas por grandes empresas — especialmente a Meta —, deve se maximizar pra 2023. "A proposta ainda é uma aposta, mas acredito que é algo promissor. Pensando no negócio da saúde, podemos aplicar o conceito em capacitação, que poderá ser aprimorada e ampliada, estudos de anatomia, planejamento de cirurgias. Dentro de perspectivas médicas, as aplicações são diversas", observa. 

O executivo acredita também que, apesar de parecer que a proposta do metaverso é aumentar a distância do contato humano por meio da promoção de ambientes virtuais, o conceito pode promover, justamente, o oposto: "Em uma terapia hospitalar infantil, com um paciente criança que recebe quimioterapia, ele pode colocar os óculos durante o procedimento e transpor o que ele poderia sentir com o tratamento. É uma tentativa de humanizar esses atendimentos de quimio, a própria aplicação de vacinas ou exames de sangue", argumenta. 

Monitoramento centralizado 

A gestão da saúde é uma das mais complexas e promover a integração de ambientes e informações dentro desse contexto é essencial para um gerenciamento de sucesso. Essa perspectiva, na opinião de Ceccon, continuará forte em 2023. 

Centros de comando, nesse sentido, permitem o gerenciamento integrado e o que o executivo chama de "gestão à vista", ou seja: agir simultaneamente à ocorrência de um fato que está em não conformidade com as políticas da instituição. Agir rápido, agir certo. 

"Não adianta [no contexto da Saúde] analisar o que aconteceu, mas sim o que está acontecendo — e é isso que o Centro de Comando se propõe a fazer. Confirmar uma cirurgia, dar alta, protocolos assistenciais, gestão de fila, tudo dentro do seu tempo certo", explica Ceccon, complementando que o intuito não é expor dados em gráfico para serem analisados, mas, sim, "acionar uma operação imediata para resolver uma questão". 

Essa, ele acredita, será uma grande oportunidade tanto quanto será uma tendência para instituições. Mas também haverá o desafio de capacitar os profissionais das salas de situação de forma adequada, para que eles entendam do negócio hospitalar e saibam coordenar ações para estancar problemas. "Instituições passarão não apenas a monitorar, mas a agir dentro de diretrizes que possam reverter questões críticas no tempo correto e trazer qualidade, segurança e melhorias para o atendimento", encerra. 

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