Tecnologia na gestão da Saúde Pública para redução da mortalidade infantil

Centralização e integração de dados possibilita busca ativa de populações de risco, além de acesso completo ao histórico da gestante e da criança, permitindo a criação de políticas públicas efetivas

Tecnologia na gestão da Saúde Pública para redução da mortalidade infantil

A redução da mortalidade infantil é um dos grandes desafios da gestão da Saúde Pública no Brasil. Por ser um país de dimensões continentais, com muitas diferenças sociais e culturais entre as regiões, torna-se evidente a complexidade para elaborar políticas públicas que reduzam o número de óbitos de crianças no primeiro ano de vida.

Em 2018, de cada 1000 nascimentos registrados no País, 12,4 resultaram em óbito antes de a criança completar um ano — taxa abaixo dos 12,8 de 2017, mas ainda distante de países desenvolvidos como Japão e Finlândia, que têm menos de 2 óbitos por mil. O tema está, inclusive, relacionado a dois dos sete indicadores do Programa Previne Brasil (que vincula o repasse de verbas do governo federal dos municípios ao desempenho na atenção primária), realização de, pelo menos, seis consultas pré-natal, sendo a primeira até a 20ª semana de gestação, e ampliação da cobertura vacinal de poliomielite e de pentavalente.

Fernando Arruda, coordenador do curso de Medicina da Universidade Municipal de São Caetano do Sul (USCS), explica que entre os principais entraves para a gestão da Saúde Pública estão as características geográficas, a distribuição desigual de oferta de serviços de Saúde e um processo de gestão do cuidado heterogêneo, que não leva em consideração as diferenças sociais e culturais do País.

“Tudo isso pode ser resumido em um aspecto, acesso. Sem ele, não se faz pré e pós-natal adequado e fica muito mais difícil reduzir a mortalidade infantil.”

A tecnologia é vista pelo especialista como um meio para otimizar as políticas públicas voltadas ao pré-natal, vacinação e acompanhamento geral da gestante e da população infantil.

Sistemas de gestão centralizados proporcionam dados confiáveis. Por exemplo, quando uma criança recebe assistência em uma unidade de Saúde, os profissionais têm todo o antecedente de pré-natal, exames, vacinas, condutas. A tecnologia como centralizadora de informações permite tomar decisões baseadas em uma análise histórica do paciente”, explica Arruda.

Algumas iniciativas do Sistema Único de Saúde (SUS), como o Prontuário Eletrônico do Cidadão (PEC), o Cartão do SUS e a informatização de unidades, tentam alcançar essas condições, mas esbarram nos gargalos já citados pelo especialista.

“É mais complicado imaginar esses equipamentos no sertão nordestino ou na floresta amazônica. Portanto, não há uma solução única que sirva para todas as regiões brasileiras, mas sim um conjunto de soluções que permitam alcançar resultados efetivos na prevenção da mortalidade infantil e em muitos outros aspectos de saúde populacional”, descreve o especialista.

A gestão da Saúde Pública deve trabalhar, ainda, pela integração dos dados vindos não apenas da assistência, mas também de outros sistemas, como assistência social, educação, e saneamento básico, já que influenciam nos óbitos de crianças.

 

Mapeamento do risco

A tecnologia também apoia a gestão da Saúde Pública no mapeamento de riscos. Sistemas que realizam triagens e permitem criar notificações periódicas são diferenciais. No modelo, a tecnologia é a responsável por alertar os profissionais se a criança não tomou vacina, se faltou uma puericultura ou outro exame, se os pais adoeceram, entre outros aspectos.

“O ideal é que o sistema interaja com a prática médica, permitindo identificar onde estão os riscos e agindo sobre eles”, detalha Arruda.

O especialista complementa ainda que a tecnologia, sozinha, não é suficiente se há qualificação profissional, especialmente em localidades que não contam com um profissional médico em tempo integral. Nesse cenário, agentes comunitários de Saúde e enfermeiros devem ser capacitados — e aqui tecnologias de educação a distância se tornam importantes aliadas.

Arruda lembra também que é importante que a gestão da Saúde Pública trabalhe com aspectos quantitativos, como ampliação de consultas pré-natais e cobertura vacinal. Mas é fundamental pensar também em um modelo de assistência qualitativo, que considere a qualidade dos serviços prestados à gestante e à criança, já que eles também influenciam a ocorrência da mortalidade.

Para ele, essa cultura reflete uma Saúde baseada em performance, que considera o desfecho clínico e a entrega de valor para os cidadãos assistidos.

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