Segurança do paciente: como prevenir erros e eventos adversos no hospital

Organização deve atuar a partir de uma visão preventiva, em vez de punitiva. Também é preciso ter em mente que problemas são responsabilidade de processos mal desenhados e de todas as pessoas envolvidas na atividade

Segurança do paciente: como prevenir erros e eventos adversos no hospital

Garantir a segurança do paciente é uma das principais formas de evitar erros e eventos adversos no cuidado em saúde. Conforme o Primeiro Anuário da Segurança Assistencial Hospitalar no Brasil, produzido pelo Instituto de Estudos de Saúde Suplementar (IESS) em parceria com a Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), de julho de 2016 a junho de 2017, 829 brasileiros morreram por dia em decorrência desses problemas, que poderiam ser prevenidos com estratégias que promovam mais proteção à assistência.

Fernando Teles de Arruda, coordenador adjunto do curso de medicina do campus Bela Vista da Universidade Municipal de São Caetano do Sul (USCS), destaca que é papel da gestão hospitalar pensar em formas de minimizar a ocorrência de erros e eventos adversos. Ele enfatiza que os gestores devem se empenhar na melhoria dos processos, no aumento do nível de satisfação dos pacientes, na definição e compartilhamento de responsabilidades e nos processos de capacitação e desenvolvimento de competências dos profissionais. Entre as principais estratégias estão:

 

Gerenciamento de processos hospitalares

Mapeia e organiza as rotinas de trabalho, estabelecendo todas as etapas envolvidas em cada atividade e de quem é a responsabilidade na execução. Com revisão periódica, permite identificar gargalos e pontos que podem ser melhorados.

 

Núcleo de segurança do paciente

Responsável por apoiar os gestores na condução das ações de melhoria da qualidade e da segurança do paciente. Para implantá-los, deve-se primeiro instalar comissões (de óbito, prontuário, medicamentos e farmácia, entre outras, que variam conforme a organização), que vão gerar os dados que podem ser trabalhados pelo núcleo. Essas comissões avaliam todas as ocorrências, de forma segmentada conforme a área, permitindo que as informações sejam trabalhadas de maneira macro pelo núcleo.

 

Sistema de gestão (Enterprise Resource Plainning — ERP)

Organiza e centraliza os dados referentes a todos os procedimentos envolvidos na assistência, inclusive os de backoffice. Ajuda a prever demandas, traçar cenários e identificar gargalos, além de possibilitar mais controle sobre o gerenciamento de processos. Permite a criação, por exemplo, de alertas para checagem da identificação do paciente ao qual determinado medicamento foi receitado, impedindo que ocorram alergias ou interação danosa.

 

Checklist

Mais comumente utilizada em centros cirúrgicos, essa estratégia visa checar todas as informações referentes ao procedimento, tais como nome do paciente, exames realizados, órgão ou membro que será operado, se anestesista está em sala, se o cirurgião avaliou todos os exames, os insumos que serão necessários especificamente para o caso em questão, entre outros itens que possam ser incluídos conforme a especialidade.

 

Capacitação

Treinar os funcionários envolvidos em cada processo da assistência é fator-chave na proteção do paciente. Os profissionais também devem ser capacitados para o uso das tecnologias, afinal, são eles que lidam diretamente com a atividade e que podem, com mais facilidade, propor soluções aos gestores para ampliar a segurança do paciente.

 

Cultura organizacional

Na avaliação de Arruda, essas e outras estratégias só são efetivas quando os gestores reconhecem que o erro não é individual, mas sim do processo e de todos os envolvidos.

“Primeiramente, deve-se implantar uma cultura organizacional que identifique e analise as ocorrências com o intuito de educar e promover mudanças que garantem a segurança do paciente. Se a organização só identifica o erro com o objetivo de puni-lo, incentiva a subnotificação e, consequentemente, não trabalha na prevenção”, avalia.

O especialista destaca que erros podem acontecer por inúmeros fatores.

“A organização deve ter a consciência de que, se algo aconteceu, é fruto de uma atividade coletiva, então, deve-se rever os passos para identificar o que pode ser aprimorado. Com essa cultura educativa, não punitiva, a comunicação entre os envolvidos melhora”, esclarece, destacando que essa transparência é uma das melhores maneiras de evitar o problema.

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