Saúde para todos: como a tecnologia está quebrando barreiras

A tecnologia está transformando a saúde, quebrando barreiras e promovendo equidade com inovações que garantem acesso e qualidade para todos.

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A tecnologia está se tornando um divisor de águas na busca por um sistema de saúde mais equitativo e acessível. 

Em palestra no MV Experience Forum, o especialista internacional em gestão e economia da saúde, André Medici (diretor executivo da iniciativa Universal Health Monitor), discutiu como as inovações tecnológicas, juntamente com o cuidado baseado em valor e os determinantes sociais, estão transformando a saúde global. 

Este artigo, baseado em sua apresentação, explora como essas tendências estão ajudando a superar desigualdades, promovendo a inclusão e garantindo cuidados médicos de qualidade para todos.

 

Desigualdade em saúde: um desafio global

O problema da desigualdade no acesso à saúde é uma realidade mundial. Segundo Medici, em 2022, menos da metade da população global tinha acesso completo aos serviços de saúde essenciais. Em regiões mais pobres, como a África e partes da Ásia, essa carência é ainda mais evidente. 

Países de baixa renda enfrentam uma série de desafios, como a baixa cobertura de vacinas para doenças como sarampo e poliomielite, e menos de 50% da população necessitada tem acesso a medicamentos essenciais para doenças crônicas. 

A consequência disso é uma mortalidade precoce evitável, especialmente em áreas como a África Subsaariana, onde menos de 60% das pessoas vivendo com HIV têm acesso à terapia antirretroviral, uma das formas de controle mais eficazes da doença.

 

O valor como ferramenta de equidade em saúde

Medici defende que o modelo de saúde baseado em valor (Value-Based Healthcare - VBHC), desenvolvido por Michael Porter, pode ser uma solução eficaz para enfrentar essas desigualdades. Esse modelo foca em entregar melhores resultados para os pacientes utilizando recursos de forma eficiente. 

Em vez de priorizar a quantidade de serviços oferecidos, o VBHC coloca a qualidade e os resultados como critério principal de avaliação. Isso garante que todos os pacientes, independentemente de sua condição socioeconômica, recebam cuidados que melhorem sua saúde e bem-estar.

Uma das principais propostas do VBHC é a centralidade no paciente. O modelo prioriza os resultados que mais importam para os pacientes, como qualidade de vida e longevidade, ao invés de focar apenas na quantidade de procedimentos realizados. 

Com isso, há uma tendência a padronizar o atendimento e reduzir variações, o que leva a um atendimento mais equitativo.

Também, o VBHC combate o desperdício de recursos ao evitar tratamentos desnecessários. A eficiência gerada libera recursos que podem ser redirecionados para áreas mais carentes, promovendo um uso mais justo dos recursos disponíveis.

 

A tecnologia como aliada na promoção de equidade

A tecnologia desempenha um papel central na implementação do cuidado baseado em valor. Segundo Medici, as inovações tecnológicas estão possibilitando a superação de diversas barreiras ao acesso à saúde, especialmente para populações mais vulneráveis. 

Algumas das principais soluções tecnológicas incluem a telemedicina, os prontuários eletrônicos e a inteligência artificial (IA), todas contribuindo de maneiras únicas para tornar o atendimento de saúde mais acessível e eficiente.

 

Telemedicina

A telemedicina tem se destacado como uma ferramenta crucial para quebrar barreiras geográficas e econômicas no contexto da saúde 5.0. Ela permite que populações em áreas remotas ou sem acesso a instalações médicas recebam diagnósticos, monitoramento e tratamento de forma remota. 

Durante a pandemia de COVID-19, por exemplo, o uso da telemedicina foi ampliado em diversas favelas e comunidades do Brasil, como no Complexo do Alemão e na Rocinha. 

Essas iniciativas mostraram como a tecnologia pode reduzir o tempo de espera para consultas e melhorar o acesso a especialistas, promovendo maior equidade no atendimento.

 

Prontuários eletrônicos

Os prontuários eletrônicos também são um elemento fundamental na transformação digital da saúde. Eles automatizam tarefas administrativas, como agendamento de consultas e alocação de recursos, permitindo que os profissionais de saúde concentrem mais tempo no atendimento direto aos pacientes. 

Ainda, facilitam a continuidade dos cuidados, já que permitem o acesso rápido e organizado às informações de saúde dos pacientes, mesmo em regiões com baixa conectividade.

Um exemplo bem-sucedido do uso de prontuários eletrônicos em países de baixa renda é o projeto Uzima, implementado em países da África, como Quênia, Uganda e Moçambique. 

O projeto utiliza um aplicativo móvel para gerenciamento de dados de saúde, o que tem aumentado significativamente o acesso a serviços de saúde em áreas rurais e melhorado o acompanhamento de doenças crônicas.

 

Inteligência artificial e Big Data

A inteligência artificial (IA) e o Big Data são outras ferramentas tecnológicas que estão revolucionando o setor da saúde. Com a capacidade de analisar grandes volumes de dados de saúde, essas tecnologias permitem identificar padrões epidemiológicos, prever demandas de saúde e otimizar a alocação de recursos. 

Em termos práticos, isso significa que os sistemas de saúde podem ser mais proativos, adotando medidas preventivas com base em dados precisos e melhorando a tomada de decisões em tempo real.

A IA também está sendo usada no monitoramento remoto de pacientes, especialmente aqueles com doenças crônicas. 

Dispositivos portáteis e aplicativos móveis equipados com IA enviam dados em tempo real para profissionais de saúde, permitindo um acompanhamento contínuo e eficaz de pacientes em regiões de difícil acesso. Isso é especialmente importante para populações rurais e marginalizadas, que enfrentam maiores dificuldades em acessar cuidados médicos de qualidade.

 

Modelos de pagamento baseados em valor

Outro ponto levantado por Medici é a necessidade de mudança nos modelos de remuneração no setor da saúde. Ele critica o modelo tradicional, que remunera os prestadores de serviços com base no volume de procedimentos realizados. 

Em vez disso, o VBHC propõe que a remuneração seja baseada nos resultados de saúde alcançados. Esse novo modelo incentiva os profissionais a focarem em tratamentos que realmente melhorem a qualidade de vida dos pacientes, ao mesmo tempo em que promovem uma maior eficiência no uso dos recursos disponíveis.

Com a adoção de modelos de pagamento baseados em valor, os sistemas de saúde podem garantir que os recursos sejam distribuídos de maneira mais equitativa, promovendo um atendimento de qualidade para todos os pacientes, independentemente de sua condição financeira ou localização geográfica.

 

O impacto nas políticas de saúde e o futuro

A tecnologia e o modelo baseado em valor estão trazendo mudanças profundas para as políticas de saúde. 

A interoperabilidade entre diferentes sistemas de saúde, a integração de dados e o foco em resultados estão permitindo que os formuladores de políticas tomem decisões mais informadas e eficazes, o que também ajuda a identificar desigualdades no sistema de saúde e direcionar recursos e políticas para as áreas mais necessitadas.

Medici ressalta que, para alcançar a universalização do acesso à saúde, é fundamental adaptar as soluções tecnológicas e as práticas do VBHC às necessidades e contextos específicos de diferentes populações. Isso significa que, além da implementação de tecnologias, é necessário investir em infraestrutura digital e na educação da população sobre o uso dessas ferramentas.

 

Conclusão

A tecnologia, quando aliada ao cuidado baseado em valor, está quebrando barreiras e transformando o acesso à saúde em todo o mundo. Ao promover a equidade e focar nos resultados para os pacientes, essas inovações estão criando um caminho mais inclusivo para a saúde global. 

Embora desafios ainda existam, especialmente em termos de desigualdade socioeconômica e geográfica, as soluções tecnológicas já demonstraram seu potencial para reduzir essas disparidades e melhorar a qualidade de vida de milhões de pessoas ao redor do mundo. 

Como Medici destacou em sua palestra, o futuro da saúde passa necessariamente pelo uso eficiente da tecnologia para garantir que o atendimento de qualidade esteja ao alcance de todos.

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