O De-Para do gestor médico no contexto da Saúde Digital

Do perfil assistencial à junção de medicina, TI e gestão, profissional deve assumir papel de principal incentivador da aceleração do ciclo de inovação nas organizações do setor

O De-Para do gestor médico no contexto da Saúde Digital

Do perfil assistencial à junção de medicina, TI e gestão, profissional deve assumir papel de principal incentivador da aceleração do ciclo de inovação nas organizações do setor

 

A Saúde está em transformação e, com ela, uma figura fundamental nas organizações: o gestor médico. Esse profissional, que nasceu junto com os primeiros hospitais, enfrenta agora inúmeros desafios, que exigem muito mais que o conhecimento em medicina: no contexto da Saúde Digital, ele deve transitar também entre a gestão e a TI, incentivando a construção de uma cultura que acelere o ciclo de inovação. E essa mudança de perfil passa, essencialmente, pela formação. 

Nesse “De-Para” do gestor médico, o perfil exigido atualmente é o do profissional que saiba lidar com toda a complexidade da medicina, ao mesmo tempo em que encara desafios como motivar a equipe assistencial a pensar e inovar seus processos com o suporte das informações geradas pelos sistemas de gestão, de forma coordenada e sinérgica. E, diante da quantidade de dados coletados, que cresce diariamente, precisa se preocupar, ainda, com a gestão da segurança das informação, além de ser o principal incentivador da cultura de inovação em Saúde dentro das corporações. 

O primeiro hospital a ser criado no Brasil foi o da Santa Casa de Misericórdia de Olinda, inaugurado em 1540 e que funcionou até 1630. O mais antigo até hoje em atividade, a Santa Casa de Misericórdia de Santos, data de 1543. Conforme os anos passaram, a medicina se modernizou e, com ela, todo o setor. Surgiram outras organizações para compor a gestão do cuidado, tais como as operadoras de Saúde, clínicas médicas, laboratórios de medicina diagnóstica, entre outras.

O gestor médico passou, então, a dividir espaço com pares especializados em administração e, mais recentemente, com profissionais de TI — já que a tecnologia da informação ganha cada vez mais destaque na Saúde Digital. 

Para Ricardo Madureira, diretor técnico assistencial do Hospital Santa Izabel, que integra o complexo da Santa Casa da Bahia, a formação médica — e, também, a dos demais profissionais de Saúde — precisa mudar.

“Acredito que os cursos devem acrescentar cadeiras de metodologias de gestão em Saúde, trabalho em equipe, segurança e coordenação do cuidado. Não tenho dúvida da necessidade de treinamento específico em uso dos sistemas operacionais para a segurança e qualidade assistencial.

Madureira acredita ser necessário um olhar aprofundado sobre o ser humano, e não apenas em relação ao processo técnico do diagnóstico e tratamento. Portanto, também elenca a inclusão de cadeiras humanísticas na graduação, como filosofia, sociologia, antropologia.

“Os profissionais de saúde precisam entender de gente em todas as suas dimensões.” 

Kleber Araujo, CMIO da MV e médico do Hospital Unimed Recife III, destaca a necessidade de inclusão de disciplinas relativas à informática médica na graduação, que ele classifica, ainda, como uma exceção no Brasil.

“A formação médica é o alicerce para gerar profissionais que vão para o mercado entendendo a Saúde Digital como um aliado, e não como um empecilho, uma barreira. Ainda é muito desafiador para o profissional entender a tecnologia, mas com a participação de mais pessoas pensando, contribuindo e ajudando a desenvolver esses conceitos, vamos fazer com que essas soluções sejam encaradas como apoio para a prática assistencial.”

Leandro Costa Miranda, CMIO do Hospital 9 de Julho e consultor médico da Folks, destacou ser preciso ir além da formação médica e buscar conhecimentos também fora da graduação. Para ele, todos os médicos devem entender de gestão financeira, gestão da informação e recursos humanos, porque eles são, essencialmente, profissionais que lideram a equipe de Saúde, portanto, precisam fazê-lo com entendimento de causa. 

Para ele, o novo perfil do gestor médico é aquele que tem profundo conhecimento sobre esses papéis.

E pensando na Saúde Digital, é importante ainda esse profissional conhecer um pouco de lógica de programação. O futuro das ferramentas de suporte à decisão pode ser comparado, hoje, a ter aula de farmacologia, na qual a gente conhece o risco e o benefício de cada remédio para, assim, decidir pelo melhor na tomada de decisão sobre o tratamento. O suporte à decisão vai estar muito ligado aos profissionais de Saúde e eles terão de saber quando precisam passar por cima da decisão entendendo como ela foi programada.” 

 

Cultura de inovação

Dentro desse novo perfil, incentivar a cultura de inovação em Saúde se torna tarefa do gestor médico. Para Madureira, será fundamental que ele saiba como dar feedback e criar um sistema de reconhecimento/meritocracia. O especialista acredita que o futuro da Saúde Digital necessitará de profissionais mais empáticos, que empoderem seus pacientes e consigam pensar em ferramentas que os auxiliem a promover saúde, e não só resolver doenças. 

Miranda acredita que será preciso ter visão do futuro, além de um contato próximo com estratégia do hospital. Afinal, o papel do gestor será fazer essa interligação: ele recebe as dores, conversa, discute, junta as pessoas e, assim, leva à adoção das tecnologias que beneficiem a todos. 

O novo gestor médico é, então, aquele que vai além da medicina e que, primeiro, sabe como humanizar a Saúde, unir pessoas e utilizar as ferramentas mais adequadas para levar ao paciente a qualidade de vida que ele espera e precisa. 

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