De colonial ao hospital digital: a jornada da transformação digital na Santa Casa da Bahia

Poucas são as instituições que hoje se igualam à Santa Casa da Bahia: ela foi a terceira do tipo a se erguer em território nacional, abrigou o primeiro hospital do estado baiano e percorreu uma jornada de evolução ímpar que lhe rendeu o status de oitavo hospital digital brasileiro

De colonial ao hospital digital: a jornada da transformação digital na Santa Casa da Bahia

Por Valmir Oliveira Júnior, diretor comercial de produto da MV 

É inegável que há resquícios da época do nosso Brasil colonial que ainda hoje temos de lidar, cujas mazelas e incongruências se arrastam por gerações. Mas, apartado disso, se há um legado positivo do ponto de vista da saúde que eu poderia citar dessa mesma época, dos idos de 1500, é por certo a construção da Santa Casa de Misericórdia da Bahia. 

Um marco não apenas por ser uma das primeiras instituições nacionais focada em atender (e entender) a população baiana que se estabelecia no território — o que é, por si, um fato significativo para a saúde no Brasil —, mas também porque a instituição se mantém viva e em constante evolução até agora. Fundada em 1549 sob o comando do então governador-geral do Brasil, Tomé de Sousa, a Santa Casa se consagrou como a terceira do tipo em território nacional — atrás apenas de Olinda (PE) e de Santos (SP). Mais de quatro séculos depois, ela conquistou outro status que demonstra que de colonial ficou apenas seu ano de construção: o tão almejado selo de hospital digital. 

Acompanhe comigo a importância dessa jornada: de uma mera construção de taipa e palha, a instituição ergueu o primeiro hospital do estado baiano. Durante 200 anos, foi o único estabelecimento a prestar assistência à população daquele território, incluindo projetos e iniciativas também voltadas às áreas de Assistência Social e Educação. 

Anos depois, em 1893, o complexo da Santa Casa da Bahia ganhou um braço importante que potencializaria seu escopo de atuação: o Hospital Santa Izabel (HSI). A instituição de 53 mil metros quadrados de área total construída abriga, hoje, 477 leitos operacionais, 84 de UTI, além de 12 salas de cirurgia, sendo responsável pelo atendimento diário de mais de dois mil pacientes em quase 50 especialidades médicas — destaque para Cardiologia e Ortopedia, áreas com atuação reconhecida nacionalmente pelo Ministério da Saúde, além de Oncologia, Neurologia e Pediatria.

 

Rumo à jornada digital 

Com esses poucos números, já é possível imaginar a complexidade da infraestrutura nos bastidores do hospital e os desafios diários para lidar com tal porte. A jornada de transformação para um hospital digital, nem preciso dizer, foi igualmente desafiadora — especialmente porque o início do processo se deu com o desenvolvimento e a implantação de um sistema proprietário que exigiu também uma equipe própria para cuidar de tudo.  

Isso foi em 2005, quando o hospital possuía pouca tecnologia e ainda não estava trabalhando de maneira integrada, gerando retrabalho e desperdício, quando o desenvolvimento do sistema criou também uma dinâmica no hospital que poderia se igualar a de uma fábrica, com grande produção e pessoas focadas em atender essa necessidade. Em 2009, deu-se a implementação do sistema em si e de um Prontuário Eletrônico do Paciente (PEP), também próprio. 

O sistema, no entanto, nunca estava completo, sempre necessitando de ajustes e constantes atualizações para atender às especificidades do local — algo que, sobretudo, se revertia em elevado custo de manutenção. Foi em 2014 que manter um sistema proprietário tornou-se insustentável e o HSI decidiu que a melhor estratégia seria buscar no mercado empresas especializadas que entendessem sua dor e realizassem o trabalho. Assim a MV entrou na linha do tempo dessa histórica instituição, em outubro do mesmo ano.  

O resto, como dizem, é história: nos cinco anos seguintes, a evolução rumo a transformação digital foi ganhando tração dentro do hospital com a implantação do SOUL MV, em 2015. Logo no ano seguinte, o Santa Izabel também recebeu o certificado de excelência nível 3 pela Organização Nacional de Acreditação (ONA), seguida pela certificação da Healthcare Information and Management Systems Society (HIMSS), estágio 6, em 2017. Mais recentemente, em 2019, veio uma dupla conquista: a certificação internacional da acreditação canadense QMentum IQG, que a oficializou como uma instituição paperless, e por fim, a conquista do HIMSS estágio 7 e, com ele, o status de oitavo hospital digital no Brasil e a primeira Santa Casa a obter esse nível de certificação.  

Os desafios para manter as conquistas e continuar a evolução digital, logicamente, permanecem. Afinal, é preciso assegurar a sustentação de processos e sistemas que permitam manter o estágio 7 do HIMSS por anos, ou até quando se tenha uma acreditação ainda mais relevante. 

Se há um "tempero extra" que eu poderia evidenciar neste processo todo, seria o papel da liderança da instituição, que foi fundamental para manter a cadência na caminhada, investindo em tecnologia e entendendo as limitações internas que precisaram ser contornadas antes que pudessem se tornar problemas. 

Identificar o crucial — tanto no nível de dados e processos quanto com relação ao que faz a diferença na jornada do paciente —, bem como dispor de soluções de inteligência artificial (IA) para otimizar a tomada de decisão estão no roadmap da instituição para os próximos anos. Mas, independentemente do caminho que o hospital escolher, é certo que a sua evolução seguirá permanentemente. Espero, sinceramente, que outras instituições sigam os mesmos passos, pois ainda há muito que precisamos evoluir em termos de Saúde como sociedade. 

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