Antigo normal: organizações de Saúde correm risco de "refluxo da transformação digital"

Professor Renato Sabbatini alerta sobre riscos de retrocedermos aos tempos pré-endêmicos, deixando de lado os ganhos da digitalização

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Vivemos tempos de urgência. E para dar conta de uma crise sanitária do tamanho da pandemia do coronavírus, a Saúde precisou se adaptar rapidamente à nova realidade, mais digital,

investindo fortemente em tecnologia capaz de atender às necessidades de pacientes, profissionais da Saúde e instituições.

“A adoção dessas tecnologias digitais foi bastante positiva para Saúde, mas devemos agora ter atenção para que não haja o chamado ‘refluxo’, com instituições e médicos retomando suas práticas assistenciais antigas e analógicas com o fim da pandemia”, alerta Renato Sabbatini, biomédico PhD com mais de 50 anos de experiência, diretor eleito do working group education da American Medical Informatics Association (AMIA), membro da International Association of Medical Informatics (IMIA) e professor adjunto de Informática em Saúde da Escola Bahiana de Medicina e Saúde Pública (BA).

Para o especialista, aqui no Brasil, muito desse reconhecido “boom” de adoção da Saúde Digital, especialmente da telessaúde, que inclui os sistemas de gestão hospitalar e de clínicas e o prontuário eletrônico, aconteceu - e ainda acontece - de forma artificial e forçada, na tentativa de mitigar as perdas econômico-financeiras e a chamada “fuga” dos pacientes dos serviços de Saúde eletivos. “A grande questão é que esse cenário evidenciou o despreparo da classe médica e das instituições para o planejamento da Saúde Digital”.

Como consequência, mesmo com o alto volume de investimentos em certas tecnologias, muitas vezes mais baratas e disponíveis, falta agora avaliar o que realmente pode impactar no legado de todas essas mudanças. “Uma transformação digital, ou até mesmo a informatização de um setor, precisa ser feita a longo prazo e com muito planejamento e muito investimento, buscando sempre a estabilidade dessa transformação em si ”, enfatiza Sabbatini.

Onde estamos

Entre os principais investimentos em tecnologia na Saúde nos últimos meses estão gestão de processos, uso de analytics, além de portais de resultados e de agendamentos de consulta online para melhorar o atendimento ao cliente. Mesmo com essas soluções pontuais em largo uso, Renato Sabbatini lembra que existe ainda uma forte resistência por parte da gestão em Saúde no investimento de determinadas tecnologias, especialmente naquelas ligadas à LGPD, como, por exemplo, armazenamento de dados em cloud nas grandes instituições.

Outro tipo de tecnologia que ainda teve baixa penetração no setor é o uso de inteligência artificial e, segundo o especialista, isso pode ter ocorrido devido às dúvidas sobre sua credibilidade e potenciais danos e riscos que podem causar à segurança dos pacientes.

Já sobre big data e necessidade de uma infraestrutura digital mais robusta, existe um longo caminho a ser percorrido, chamado interoperabilidade. “Somente com uma comunicação entre sistemas a Saúde poderá formar os chamados data lakes e repositórios de dados intensivos que agreguem informações para a aplicação de uma medicina preditiva”, deixa claro o professor, que, por fim, ainda chama atenção para o quanto o preenchimento incompleto do prontuário eletrônico impacta diretamente a veracidade desses dados da Saúde para a implantação correta de BI.

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