4 dicas para melhorar a gestão hospitalar e equilibrar as finanças
Conscientização de colaboradores é fundamental; coleta de dados precisos por meio de sistemas permite uso de ferramentas de BI e Inteligência Artificial para apoiar a tomada de decisão dos gestores
O prazo médio para os hospitais privados receberem das operadoras de Saúde pelos serviços prestados aumentou em uma semana em 2017, segundo dados do Observatório 2018 da Anahp (Associação Nacional dos Hospitais Privados). Isso significa, na prática, que os pagamentos pelos procedimentos realizados em um determinado mês agora demoram um pouco mais para entrar no caixa das instituições. Esse cenário exige uma gestão hospitalar eficiente, capaz de garantir a contabilidade inteligente e manter as contas no azul.
O levantamento da Anahp mostra que, em 2016, o pagamento era realizado em até 66,8 dias, prazo que saltou para 73 dias em 2017. A crise econômica, que deixou muita gente desempregada e, consequentemente, sem condições de pagar por um convênio médico, impactou a receita das operadoras, que contabilizaram perdas de mais de 3 milhões de beneficiários em três anos, segundo a Associação Brasileira de Planos de Saúde (Abramge). Paralelo a isso, os custos de produtos e serviços do setor cresceram além da inflação — preços do grupo saúde e cuidados pessoais avançaram 6,52% em 2017, enquanto o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) cresceu 2,95%.
Diante dessa situação, o que fazer para melhorar a gestão hospitalar? Confira quatro dicas do coordenador da pós-graduação em gestão hospitalar da Universidade Metodista de São Paulo, Antero Matias:
1) Mude os hábitos dos colaboradores
O processo de equilibrar as finanças passa, antes de tudo, por uma mudança de hábitos dos colaboradores que atuam na área assistencial e pelo uso racional dos recursos.
“É muito importante que haja a reposição integral dos insumos. Antes de usar uma seringa agulhada para atender o paciente B, eu preciso repor a que utilizei no A”, exemplifica Matias.
Outro ponto é não utilizar nada além do necessário, a fim de evitar desperdício, até porque tudo o que for usado deve ser remunerado pelas operadoras de Saúde, pelo governo ou pelo paciente particular.
“Se o motivo do uso de um insumo ou recurso não for devidamente comprovado, não será reembolsado. Essa organização é primordial, antes que vire uma bola de neve. E todo mundo que trabalha em um hospital precisa entender isso”, sentencia.
2) Negocie prazos de pagamento
Diante do atraso do pagamento por parte da operadora de saúde, deve-se negociar com os fornecedores.
“É fundamental ter jogo de cintura e remanejar o planejamento para evitar entrar no vermelho”, diz Matias.
Se os suprimentos estiverem com valor acima do que o hospital pode pagar, uma saída é organizar cooperativas com outras instituições para adquirir quantidades maiores a custos menores, devido ao maior poder de barganha.
3) Use os recursos que estão ao alcance
O especialista alerta que de nada adianta a obtenção de maior elasticidade no pagamento se os profissionais não entenderem que o uso de produtos, medicamentos e exames deve ser feito com parcimônia.
“Não adianta um médico voltar de um congresso internacional e querer usar algo que aprendeu lá fora se não tiver quem pague por isso”, adverte.
Na atual conjuntura, é preciso entender que se deve curar as pessoas exatamente com os recursos necessários para isso.
“O mais complicado é equilibrar a equação de receber x, mas querer desembolsar 5x. A conta não fecha.”
4) Use a tecnologia a favor da eficiência
Ao promover mudança de hábitos e tornar a tecnologia aliada para organizar melhor as informações e evitar erros, é possível melhorar o desempenho e o faturamento hospitalar. A indústria petrolífera também atua da mesma maneira que um hospital, primeiro executa o serviço e depois recebe por ele. No entanto, ela se organiza para não entrar no vermelho.
“Sistemas de gestão hospitalar podem ser importantes aliados no processo de profissionalização da administração”, assinala o especialista.
Ao ter em mãos informações mais precisas sobre o funcionamento do hospital, e utilizá-las adequadamente, é possível trabalhar com Business Intelligence (BI) e Inteligência Artificial, que orienta a tomada de decisões e indica quais patologias são mais frequentes.
Dessa forma, os novos aportes da instituição podem ser direcionados por esses dados, que devem reforçar e melhor qualificar a assistência a partir de uma gestão hospitalar inteligente. Conforme dados do Observatório Anahp 2018, atualmente 69% dos hospitais já conseguem gerar BI a partir de seus prontuários. Basta, então, que utilizem as informações para promover a eficiência da gestão e a consequente qualidade da assistência aliada aos resultados financeiros.
Além da gestão por meio de indicadores, é fundamental buscar ferramentas que agem como sentinela no processo de controle mediante gabaritos e protocolos. Não se pode utilizar aquilo que é indevido ou não contratualizado, por exemplo, ou até mesmo deixar de atualizar contratos e tabelas. O auxílio preditivo aos usuários e stakeholders é fundamental para a otimização completa no ciclo financeiro da instituição.