3 passos para trazer eficiência à gestão dos hospitais de campanha

Estados e municípios encontram em unidades temporárias uma saída em tempos de pandemia, mas enfrentam desafio de garantir a segurança do paciente e a racionalização dos recursos

3 passos para trazer eficiência à gestão dos hospitais de campanha

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Conforme a pandemia do coronavírus se espalha pelo Brasil, a demanda por leitos cresce na mesma proporção que o número de casos. Para responder a esse cenário, estados e municípios investem nos chamados hospitais de campanha, estruturas temporárias instaladas em ginásios, estádios e outros locais semelhantes para receber indivíduos com a doença, mas em situações de baixa complexidade, que não necessitam de terapia intensiva. Com a instalação das estruturas surge, também, um desafio para a gestão hospitalar: garantir que operem de forma eficiente e eficaz, com a máxima segurança ao paciente e o consumo adequado de recursos.

Gonzalo Vecina, médico, professor da Faculdade de Saúde Pública da Universidade de São Paulo (USP) e ex-presidente da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), lembra que o Brasil não possuía experiência com projetos de hospitais de campanha.

“Em toda a nossa história, não tivemos a necessidade de adotar esse modelo. Temos poucos desastres naturais. Já vivemos circunstâncias como acidentes de avião, grandes incêndios, mas não eventos dessa proporção [da pandemia do coronavírus]”, comenta, reiterando que em outros surtos e epidemias, como o de H1N1 em 2009, a magnitude foi menor e não houve necessidade de criar estruturas emergenciais desse tipo.

O especialista aponta não haver diretrizes definidas para essas unidades, o que torna mais complexo o trabalho da gestão hospitalar ao criar uma estrutura desse porte.

"Não temos atualmente disponível uma norma da Anvisa para hospitais de campanha, que não são como os tradicionais, e não têm como serem por conta da velocidade e finalidade com que são construídos", salienta.

Apesar disso, é fundamental garantir a máxima eficiência nesses complexos, promovendo um ambiente seguro para a assistência e que evite o desperdício de recursos — algo fundamental em tempos de pandemia. A seguir, o especialista aponta três passos que auxiliam a gestão hospitalar a trazer mais eficiência para essas unidades temporárias:

 

1 - Planejar e adequar a estrutura

O primeiro passo para a instalação de um hospital de campanha, segundo Vecina, é adequar a infraestrutura para as necessidades assistenciais. Pontos como iluminação, climatização, água e energia devem ser contemplados no projeto.

"Precisa de estrutura para servir alimentos, lavanderia, laboratório de coleta, salas de raio-x. Tenho visto, inclusive, alguns hospitais de campanha que estão aparecendo com tomógrafos, porque essa enfermidade pode demandar esse tipo de equipamento", elenca.

É nessa etapa também que surge a necessidade de planejar que tipos de tecnologias da informação serão necessárias para apoiar tanto a assistência quanto a gestão hospitalar, incluindo sistemas de gestão, prontuário eletrônico e até mesmo uso de telemedicina para que profissionais de saúde tenham acesso a especialistas remotos e possam trocar informações sobre o quadro e a evolução clínica dos pacientes.

 

2 - Definir e implementar protocolos clínicos

O passo seguinte indicado pelo especialista é estipular o que será necessário para prestar a assistência no hospital de campanha e, então, alinhar essas necessidades a protocolos clínicos específicos.

"Instalações sanitárias são complexas, então, é preciso fazer adaptações no caso dessas estruturas emergenciais. Acredito que um bom caminho é olhar para o que se quer fazer e, então, dar condições para que tudo possa ser efetivamente realizado", complementa.

Nesse sentido, os protocolos estabelecem um norte e fornecem à gestão hospitalar uma previsão dos medicamentos, insumos e equipes necessárias para atender os pacientes. Eles podem, ainda, ser aliados a um sistema de gestão hospitalar que integra recursos em TI para as áreas assistenciais, de laboratório, de diagnóstico por imagem, de farmácia, financeira e contábil, permitindo otimizar tanto os processos hospitalares de atendimento quanto os de backoffice.

 

3 - Adotar o prontuário eletrônico

Vecina complementa que alguns hospitais de campanha já em operação no País adotaram o PEP desde o início e funcionam, inclusive, sem papel, impactando diretamente na segurança do paciente e também na racionalização dos recursos. Quando integrado a um sistema de gestão, inclusive, o prontuário consegue disponibilizar indicadores relacionados a pacientes em isolamento no ambiente hospitalar, evolução de tratamentos, disponibilidade de leitos e demais dados que otimizam a qualidade assistencial.

Ao planejar cuidadosamente a implantação do hospital de campanha e, também, usar a tecnologia disponível para otimizar os processos, a gestão hospitalar garante a assertividade necessária ao serviço ao mesmo tempo, em que despende exatamente o recurso necessário para prestá-lo — equação fundamental em tempos de demanda elevada no setor de saúde.

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